“Odisseia”, da Cia. Hiato, é uma viagem turbulenta
O diretor Leonardo Moreira e o elenco fizeram ousada adaptação da obra de Homero que não mascara irregularidades e excessos
Odisseia, da Cia. Hiato, é uma experiência de quase cinco horas. O público pode beber cachaça, tomar sopa, dançar e até receber massagem para enfrentar a viagem proposta pelo diretor Leonardo Moreira e pelo elenco em uma adaptação da obra de Homero.
Nela, Odisseu, também chamado de Ulisses, passa uma década na Guerra de Troia e leva outros dez anos para reencontrar a família em casa. Apoiada nesse gancho, a montagem toma forma em uma costura característica do grupo, a dramatização de vivências pessoais em uma linha tênue entre ficção e realidade.
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Quem abre a cena é Aura Cunha, produtora da Hiato, cuja emotividade contagia ao lembrar-se do pai, que a deixou quando pequena por razões nebulosas. Na sequência, a atriz Fernanda Stefanski brilha no mesmo caminho sentimental ao falar da incapacidade de autoaceitação do seu pai, enquanto Luciana Paes, intérprete sempre tão vigorosa, derrapa em uma interação típica das comédias femininas digestivas ao evocar Calipso.
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Maria Amélia Farah instiga a plateia na remissão sensual à feiticeira Circe, e Paula Picarelli injeta fôlego na cena construída em torno da deusa Atena e da propagação do ódio. O debate segue contemporâneo na entrada de Aline Filócomo, que interpreta Penélope em seu desenho de revolta feminista diante do retorno do marido ao lar.
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Cabe ao ator Thiago Amaral, quase discreto até então, a difícil tarefa de fechar a encenação e cravá-la na memória do público, talvez cansado pela longa duração. O artista, bravo, comanda um emotivo final, capaz de chamar atenção pela força épica e também mascarar irregularidades e excessos do trabalho (270min, com dois intervalos). Estreou em 9/6/2018. 18 anos.
+ Sesc Avenida Paulista. Avenida Paulista, 119. Quinta a sábado, 19h; domingo, 17h. R$ 30,00. Até 8 de julho.