“O Beijo no Asfalto”: peça de Nelson Rodrigues não envelhece
A direção de Bruno Perillo reforça o caráter atemporal do texto e esse caminho fica claro nas interpretações do elenco
Quase seis décadas depois, O Beijo no Asfalto (1960) se mantém como a mais contemporânea das tragédias de Nelson Rodrigues. Seja nos tempos da imprensa sensacionalista, das fofocas de portão ou das redes sociais, a história de Arandir (papel de Anderson Negreiros), cidadão comum que atende ao último pedido de um homem atropelado, causa incômodo pelo amplo enfoque.
Por que, afinal, ele aceitou beijar um desconhecido à beira da morte? A dúvida ronda a mente de sua mulher (a atriz Rita Pisano), da cunhada (Natalia Gonsales) e do sogro (Mauro Schames) e serve de lenha para a fogueira alimentada pelo jornalista Amado Ribeiro (Roberto Audio), que explora e manipula o fato.
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A direção de Bruno Perillo reforça o caráter atemporal da peça, intenção também transmitida pela cenografia de Marisa Bentivegna e pelos figurinos de Anne Cerruti. Algumas expressões de Nelson podem até entregar a data do original, mas os intérpretes se apresentam com uma naturalidade incomum para a década de 60.
Esse caminho fica claro nas performances de Negreiros, Rita e Natalia, que transitam sem camuflagem por sentimentos como vaidade, histeria e malícia, capazes de revelar entrelinhas pouco sublinhadas nas recorrentes versões desse texto. Com Angela Ribeiro, Heitor Goldflus, Lucas Lentini e Valdir Rivaben (80min). 14 anos. Estreou em 20/11/2019.
+ Teatro do Núcleo Experimental. Rua Barra Funda, 637, Barra Funda. Quarta e quinta, 21h. R$ 40,00. Até o dia 12.