Na contramão dos shoppings,Teatro J. Safra abre em uma rua da Barra Funda
Até metade de 2015, o público paulistano deve ganhar cinco novas casas de espetáculos localizadas em shoppings centers. O Theatro Net São Paulo, no Shopping Vila Olímpia, promete abrir as portas na quarta (16). Em outubro, é a vez de o Shopping Villa-Lobos entregar uma sala de 750 lugares. O Jardim Sul, o Pátio Paulista […]
Até metade de 2015, o público paulistano deve ganhar cinco novas casas de espetáculos localizadas em shoppings centers. O Theatro Net São Paulo, no Shopping Vila Olímpia, promete abrir as portas na quarta (16). Em outubro, é a vez de o Shopping Villa-Lobos entregar uma sala de 750 lugares. O Jardim Sul, o Pátio Paulista e o Shopping Cidade São Paulo, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Pamplona, virão logo na sequencia. Na contramão dessa corrente, o Teatro J. Safra será inaugurado no dia 24 de julho na Barra Funda. Com 633 lugares, a casa está localizada na Rua Josef Kryss, s/nº , uma paralela da Avenida Marquês de São Vicente, entre o Viaduto Antártica e a Pompeia. O ator e produtor Maurício Machado e o diretor Eduardo Figueiredo, da Manhas & Manias Produções Artísticas, são os responsáveis pelo espaço cultural e prepararam uma programação estelar para incluir o J. Safra no mapa cultural da cidade. Entre os dias 25 e 27 de julho, a atriz Nathalia Timberg apresenta o solo “Paixão”, escrito por Betty Milan e dirigido por Wolf Maya. Nas duas semanas seguintes, a cantora Gal Costa revisita clássicos pouco óbvios do seu repertório em um novo show apoiada pelo violonista e guitarrista Guilherme Monteiro. Maurício Machado bateu um papo com a gente.
+ Theatro Net é a primeira das cinco salas em shoppings prometidas até metade de 2015.
São Paulo enfrenta uma onda de novos teatros em shoppings. E o J. Safra está localizado em uma rua escondida da Barra Funda. Como vocês estão se preparando para essa contracorrente?
São Paulo vive um momento atípico. Nunca houve tantos projetos incentivados, leis de fomento e empresas que começam a entender a visibilidade que o marketing cultural traz para suas marcas. Isso oxigenou o mercado, gerou trabalho aos artistas e obrigou a categoria a adotar um comportamento mais profissionalizado, como é o teatro em outros países. Por outro lado, vivemos o paradoxo de ter cada vez menos salas. Muitos bons teatros entraram em decadência e outros fecharam e se tornaram igrejas evangélicas, supermercados ou estacionamentos. A onda nos shoppings é algo muito recente. Por aqui, tem uma década mais ou menos, enquanto, no Rio de Janeiro, eles existem há 40 anos. Lá, também as pessoas não deixam de ver os espetáculos que desejam por causa da localização. Um exemplo disso é o centro do Rio, que abriga mais de dez teatros. Confesso que o chamado “conforto” gerado pela trinca “entretenimento, praça de alimentação e estacionamento seguro” é atrativo para o médio público, mas, no nosso caso, estamos muito bem estruturados.
De que forma vocês vão explorar esse diferencial de ser um teatro de rua?
O diferencial é apresentar o Teatro J. Safra como uma casa de espetáculos, como um palco da diversidade. Isso fica notório no desenho da programação que apresentamos nos primeiros meses. O J. Safra foi pensado e estruturado para abrigar espetáculos de pequeno, médio e grande porte e, portanto, nem sempre por questões estruturais e limitadores físicos os teatros em shopping conseguem absorver a demanda de produções. Basta uma análise nas dimensões de palco, urdimento e todo o caderno técnico do teatro. Outro ponto que nos preocupamos foi a segurança no local, que conta com um contingente bastante considerável de pessoas para isso, bem como serviço de valet na porta e, para quem preferir, um estacionamento conveniado ao lado. Fizemos também uma concorrência com fornecedores para o café. Creio que possamos voltar assim à celebração que é escolher a programação do que se vai assistir e isso não é fruto do mero consumismo ocasional. Nada contra. Muito pelo contrário. Quanto mais teatros na cidade melhor. Eu só lamento que os shoppings tenham também tão tardiamente entendido a principal vocação da cidade, que é a força do seu turismo cultural. Temos um novo espaço para espetáculos que necessitem de uma casa com 633 lugares. A divulgação nem havia começado e recebíamos uma média de três solicitações de pauta por dia, tanto do Rio de Janeiro como de São Paulo.
Qual é a relação do teatro com o Banco Safra e como foi a concorrência que vocês enfrentaram?
O teatro pertence ao Instituto Safra, que abriu concorrência para sua gestão artística e administrativa. A concorrência aconteceu entre as maiores produtoras e gestoras de teatro de São Paulo. Vencemos não só pela nossa experiência na área cultural, mas principalmente por apresentar ideias e estratégias inovadoras do mercado tradicional. Não temos os valores de investimento da obra, mas o teatro está impecável e com toda a infraestrutura e condições técnicas desejáveis. Não houve grandes obras na reta final. Acompanhamos acabamentos básicos, como bilheteria, camarins e fachada. Em parceria com o Instituto Safra, vamos oferecer várias atividades culturais gratuitas. Serão oficinas, palestras, workshops e sessões para a população. A implantação desse projeto social é muito importante para todos. Pretendemos manter um núcleo fixo de dramaturgia, entre outras atividades.
Além de Nathália Timberg e Gal Costa, o que mais você pode adiantar da programação para esse segundo semestre?
A programação dos próximos meses é justamente para apresentar ao público o teatro, e essa natureza que pretendemos aplicar de um espaço multifacetado. A partir de 2015, as montagens teatrais terão temporadas mais longas, conjugando com essa diversidade e que atenda a demanda de nichos e de interesse gerais. Para as quintas-feiras, a cena será do humor com “Improvizório”, protagonizado por Gustavo Mendes, Paulinho Serra e Kefera Buchmann. Também receberemos “Universo Casuo”, a humorista Samantha Schmutz e o Ballet Stagium em um espetáculo que comemora os 70 anos de Chico Buarque. Temos programados ainda um show de Ângela Maria e Cauby Peixoto, logo depois vem Elza Soares e o monólogo cômico “E Foram Quase Felizes para Sempre”, protagonizado pela Heloisa Périssé. E tem muito mais como música de câmara, pequenas óperas, espetáculos para toda a família, debates, leituras dramáticas e oficinas gratuitas ao publico.