“Grande Sertão: Veredas”: clássico vitorioso no palco
Bia Lessa adaptou e dirige monumental versão do romance de Guimarães Rosa para o teatro
A diretora Bia Lessa despontou na cena brasileira no fim dos anos 80 como parte de uma geração privilegiada que incluiu Gerald Thomas e Gabriel Villela. Em “Grande Sertão: Veredas”, a encenadora adapta de forma vigorosa um dos maiores e mais densos clássicos da literatura nacional e mostra que o teatro de imagens pregado por essa turma faz falta na atualidade. Difícil por natureza, mas brilhante depois de decifrado, o romance de Guimarães Rosa (1908-1967), assim como a versão, propõe uma comunhão com o público.
São quase três horas de duração sem intervalo em uma estrutura de arquibancadas, desconfortáveis, montada no hall do Sesc Consolação. Cada pessoa recebe um fone, em que ouve os diálogos e a trilha sonora composta por Egberto Gismonti, e mergulha em uma experiência provocativa. A história do jagunço Riobaldo (interpretado por Caio Blat) é revelada em meio a grandiosas batalhas entre pistoleiros inimigos. O amor reprimido pelo colega Diadorim (representado por Luiza Lemmertz) intriga o espectador, assim como sua sede de vingança contra o vilão Hermógenes (papel de Leon Góes).
A mão delicada de Bia se reflete em passagens ousadas, como a cena de sexo protagonizada pela atriz Luisa Arraes e por Caio Blat. Por tudo isso, o espetáculo enche os olhos do público. O trunfo da diretora, no entanto, está na condução do elenco. Se Caio Blat beira o sublime na angústia de Riobaldo, os outros nove atores, entre eles Leonardo Miggiorin, Balbino de Paula e Daniel Passi, formam um conjunto harmônico e raro de ver em grupos tão numerosos (170min). 18 anos. Estreou em 9/9/2017.
+ Sesc Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque. Quinta a sábado, 20h30; domingo, 18h30. R$ 40,00. Até 22 de outubro.