Fábio Ferretti sublinha densidade em “Terça no Hiper”
Inédito no Brasil, o dramaturgo francês Emmanuel Darley encontrou a inspiração para o monólogo dramático “Le Mardi à Monoprix” justamente em um supermercado. Ele teria visto um velho acompanhado de uma mulher grande, vistosa, possivelmente um travesti, fazendo compras e percebeu certo distanciamento entre os dois. É assim que a transexual Paula – a personagem […]

Inédito no Brasil, o dramaturgo francês Emmanuel Darley encontrou a inspiração para o monólogo dramático “Le Mardi à Monoprix” justamente em um supermercado. Ele teria visto um velho acompanhado de uma mulher grande, vistosa, possivelmente um travesti, fazendo compras e percebeu certo distanciamento entre os dois.
É assim que a transexual Paula – a personagem interpretada pelo ator Fábio Ferretti – sente-se em relação ao pai no espetáculo “Terça no Hiper”, em cartaz na Sala Experimental do Teatro Augusta. Depois de décadas afastado de casa, o filho rejeitado volta a encontrá-lo toda semana. De salto alto, peruca e maquiado. A mãe morreu e, então, Paula pega um ônibus até a cidade do interior e vai ver se está tudo em ordem, lava alguma peça de roupa, abastece a despensa.
Sob a direção de Vany Alves, Ferretti reproduz diferentes sentimentos, como mágoa, carinho e delicadeza, na composição do controverso tipo. O cenário, formado por cortinas leves que separam a boca de cena da plateia, amplia as possibilidades de leitura do denso texto. Teria o protagonista realizado mesmo esse acerto de contas com pai? A estrutura fragmentada da narrativa abre outras possibilidades. Bem… Se eu falar um pouco mais sobre o que pensei posso entregar o desfecho. Mas gosto de espetáculos que me deixam com a sensação de que viajei um pouco além da conta.