3 perguntas para Cláudia Abreu, em cartaz com peça sobre Virginia Woolf
Em sua estreia como dramaturga, atriz carioca encena últimos minutos de vida da escritora britânica
Virginia não só é o primeiro monólogo de Cláudia Abreu, com uma carreira de sucesso na televisão e no teatro, mas também o primeiro texto dramatúrgico da atriz carioca. No Sesc 24 de Maio, Cláudia está sozinha, traja um longo vestido branco e encena passagens trágicas e inspiradoras da vida de Virginia Woolf (1882-1941), a partir de fluxos de consciência, narrativa característica da autora britânica.
Durante uma hora, o público entra na cabeça de Virginia em seus momentos finais, antes de encher os bolsos de pedras e se afogar no Rio Ouse. A peça, que está com os ingressos esgotados, segue em agosto para Belo Horizonte. Quem não conseguiu um bilhete tem a chance de ler Virginia — Um Inventário Íntimo (Nós, 48 págs., R$ 45,00), com o texto do espetáculo.
Por que encenar Virginia Woolf?
A primeira vez que encenei uma peça baseada em Virginia foi aos 18 anos (Orlando, 1989, dirigida por Bia Lessa). Foi aí que entrei em contato com a obra dela. Fiquei uns vinte anos sem ler os livros e só a revisitei recentemente, enquanto fazia aulas de literatura. Eu dizia a minha professora que tinha vontade de escrever algo sobre fluxos de consciência, tinha umas ideias soltas. Então, ela me falou: “Você precisa ler Virginia Woolf!”, e me deu Mrs. Dalloway (1925). Depois eu li Ao Farol (1927), fui lendo tudo dela e ficando absolutamente apaixonada e muito identificada com a sensibilidade e a percepção fina da realidade de Virginia. Também li os diários, memórias e biografias e cheguei à conclusão de que o que eu queria escrever era sobre ela, sobre a vida dela. Fiquei fascinada com o que ela fez do que a vida fez dela. Em como ela passou por tantas adversidades e, mesmo assim, construiu uma obra brilhante.
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Desde que atuou em Orlando, o que mudou em sua percepção da obra de Virginia e em sua relação com a escritora?
Mudou tudo. Idade não significa necessariamente sensibilidade. Acho que você pode ler Virginia Woolf aos 18, com a idade que for, mas, agora, com toda a minha vivência sobre os vários assuntos abordados na peça, me bateu de um jeito diferente.
O que você acha que a escritora tem a ensinar nos dias de hoje, principalmente às mulheres?
Ela foi uma das primeiras feministas. Foi uma mulher que sofreu abuso, foi impedida de frequentar a escola. Tudo o que é dito na peça é muito atual. Temos de falar da condição da mulher sempre.
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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de julho de 2022, edição nº 2799