Na segunda metade da década de 60, as mulheres se impuseram como elementos inovadores da dramaturgia brasileira. Entre elas estavam Leilah Assumpção, Isabel Câmara e Consuelo de Castro. Em meio aos conflitos políticos e ao autoritarismo da época, essas autoras chamaram a atenção do público e da crítica por dosar em seus textos personagens intimistas sem fazer vistas grossas à onda repressiva que o Brasil atravessava.
Mineira radicada em São Paulo, Consuelo de Castro morreu, aos 70 anos, na madrugada desta quinta (30), na capital paulista, vítima de um câncer. Ela enfrentava a doença há seis anos. O velório se realiza a partir das 15h no Cemitério do Araçá. O corpo será cremado às 19h no cemitério da Vila Alpina.
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Depois de cursar ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e ser militante ativa do movimento estudantil, Consuelo escreveu seu texto de estreia, “Prova de Fogo”, em 1968, que mostrava os bastidores da agitação política no meio escolar. A censura não perdoou, e a obra ficou conhecida apenas em leituras clandestinas, ganhando uma montagem só em 1993. O seu nome, no entanto, teve reconhecimento no trabalho seguinte. Em “À Flor da Pele”, de 1969, Miriam Mehler e Perry Salles representavam os papéis de uma jovem aluna e um professor conservador que vivem um caso de amor. Adaptada para o cinema em 1976, o filme de Francisco Ramalho Jr. trouxe Denise Bandeira e Juca de Oliveira no elenco.
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Premiada com o Molière e o Governador do Estado de melhor autora em 1974, Consuelo conheceu a consagração com “Caminho de Volta”, dirigida por Fernando Peixoto, sobre a crise financeira de uma empresa gerando conflito em seus funcionários. Nos anos 80, a dramaturga escreveu “Louco Circo do Desejo”, que tinha uma prostituta e um jovem empresário no centro da trama, “Script-Tease”, “Marcha à Ré”, “Mel de Pedra” e “Uma Caixa de Outras Coisas”, protagonizado por Clarisse Abujamra sob o comando de Antonio Abujamra. Para o diretor, ela ainda faria uma nova adaptação do musical “Hair”, em 1987. Em 2004, “Memórias do Mar Aberto – Medeia Conta sua História”, ganhou encenação no Teatro Sérgio Cardoso, com os atores Leona Cavalli, Cassio Scapin e Rubens Caribé. Seu último trabalho foi um livro infantil dedicado ao neto. Consuelo deixou dois filhos, a fotógrafa Ana Carolina Lopes e o jornalista Pedro Venceslau.
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