Três perguntas para Ana Flávia Cavalcanti, que apresenta solo na capital
Em 'Conforto', atriz, que tem feito sucesso na televisão e no streaming, relembra a infância e reflete sobre a desigualdade social
Em Conforto, em cartaz no Sesc Pompeia, a atriz Ana Flávia Cavalcanti, 41, conhecida pelos papéis em novelas e séries da Globo como Os Outros (2023), relembra a infância, quando acompanhava a mãe, uma trabalhadora doméstica, em faxinas pela região metropolitana de São Paulo. Na trama, ela encarna uma faxineira, uma Paquita e uma babá, função que exerceu pela primeira vez aos 8 anos de idade. O solo, “interrompido” apenas pela participação da própria matriarca, reflete sobre a desigualdade social, enquanto evoca os símbolos que geralmente associamos ao aconchego e ao bem-estar e desestigmatiza o trabalho doméstico.
Quais os significados de “conforto” na peça?
Me inspirei no cheiro de amaciante, que eu sentia quando ia às casas de família com a minha mãe, e o café da manhã do programa da Xuxa, cheio de coisas que eu morria de vontade de comer, mas não podia. O conforto é relativo, cada um pode associar a algo diferente, mas acho que, para tê-lo, precisamos de uma boa casa, uma boa comida, boas relações e um trabalho digno. Quando a vida é dura, quando você não tem nada, às vezes só o dinheiro da faxina do dia, como você vai pensar em conforto?
Aos 41 anos, sente que alcançou o conforto que tanto desejava quando mais jovem?
Em alguns aspectos, sim. Hoje eu me conheço mais, tive muitas experiências de vida, de amores, viagens e família, vivo do meu trabalho e posso proporcionar bons momentos para a minha família.
Você começou a carreira no teatro, mas ficou conhecida com os trabalhos na televisão e no streaming. Como lida com a fama? Pretende continuar criando e atuando em espetáculos?
Estou amando. Nesse ano fiz uma série e dois filmes, e faço mais um antes de 2023 acabar. Adoro o audiovisual, é um ambiente que conheço e no qual me sinto muito à vontade. Mas o teatro nos dá a oportunidade de contar nossas próprias histórias. Na peça, estou falando de mim, mas acabo falando de muitas outras mulheres. Não quero dizer que represento todo mundo ou muita gente, mas sabemos que esses espaços nem pensavam em artistas como eu antigamente. Quero, sim, continuar.
Publicado em VEJA São Paulo de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865