“Julia” faz cinema no teatro para mostrar a senhorita de hoje
Dramaturga e diretora, a carioca Christiane Jatahy sempre investiu em um teatro de imagens, com forte apelo visual. “A Falta que nos Move” e “Corte Seco” são dois exemplos de ousadias – uma muito bem-sucedida e outra nem tanto – da sua Vértice Companhia de Teatro. Com “Julia”, adaptação atualizada da peça Senhorita Julia, de […]
Dramaturga e diretora, a carioca Christiane Jatahy sempre investiu em um teatro de imagens, com forte apelo visual. “A Falta que nos Move” e “Corte Seco” são dois exemplos de ousadias – uma muito bem-sucedida e outra nem tanto – da sua Vértice Companhia de Teatro. Com “Julia”, adaptação atualizada da peça Senhorita Julia, de August Strindberg (1849-1912), ela radicaliza não apenas ao puxar a trama escrita em 1888 para o Rio de Janeiro dos dias de hoje como por criar uma encenação próxima ao cinema, fundindo teatro ao vivo, filmado e a captação de cenas durante a representação.
O romance impossível entre a filha de um conde e um criado, agora, envolve a mimada herdeira de um empresário e o ambíguo motorista da família (interpretados por Julia Bernat e Rodrigo dos Santos). A câmera transita pelos cenários e registra a dupla em um movimento capaz de deixar os desempenhos irregulares em segundo plano.
Como o importante nesse começo de século 21 é o impacto do momento, a montagem em cartaz no Sesc Belenzinho valoriza-se pela contemporaneidade, nessa sensação de que sempre existe alguém nos espiando. Logo, um dos pontos altos está na forte cena de sexo, transmitida ao vivo de um dos cenários, mas não diretamente aos olhos da plateia. Também se mostram importantes o respeito e a fidelidade de Christiane Jatahy ao original de August Strindberg. A essência do clássico do dramaturgo está lá, apenas deslocando os fatos e reinventando como seriam tais personagens para melhor estabelecer o diálgo entre as linguagens e o tempo.