Debaixo de chuva, Paul McCartney se apresenta para 45 mil pessoas em São Paulo
É verdade, foi como sempre. Ele enfileirou hits dos Beatles, dos Wings e da carreira solo, abusou das frases em português (de “oi, paulistas” a “é nóis”), voltou duas vezes para o palco e, é claro, esbanjou muita simpatia para as 45 mil pessoas que encheram o estádio Allianz Parque. Algum problema em não inovar […]
É verdade, foi como sempre. Ele enfileirou hits dos Beatles, dos Wings e da carreira solo, abusou das frases em português (de “oi, paulistas” a “é nóis”), voltou duas vezes para o palco e, é claro, esbanjou muita simpatia para as 45 mil pessoas que encheram o estádio Allianz Parque. Algum problema em não inovar no roteiro? Absolutamente nenhum quando estamos falando de Paul McCartney.
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Já pensou se ele se esquecesse de Blackbird, Let it Be, Hey Jude e Yesterday? Inimaginável. E se ele não homenageasse John Lennon e George Harrison respectivamente com Here Today e Something? É bom nem cogitar a possibilidade. Pela expressão extasiada das pessoas das mais diversas idades que enfrentaram a chuva, o trânsito, as filas intermináveis e os alagamentos na região do estádio para assistir ao espetáculo desta terça (25), os fãs do ex-beatle querem mais é que ele continue fazendo “mais do mesmo” por muito tempo.
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O músico chegou à cidade depois de passar por Espírito Santo, Rio de Janeiro e Brasília, acompanhado da potente banda formada por Paul “Wix” Wickens (teclados), Brian Ray (baixo e guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr. (bateria). A estrutura da turnê Out There – cujo primeiro show foi realizado na cidade de Belo Horizonte no ano passado – é de impressionar: uma equipe de 320 profissionais, 42 carretas, uma estrutura metálica de montagem que pesa cerca de 150 toneladas e 150 caixas de som com potência de 200 000 watts.
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McCartney subiu ao palco bem atrasado, às 21h46, quase uma hora depois do prometido e após uma interessante (mas cansativa) retrospectiva fotográfica de sua carreira com vinte minutos de duração. Eight Days a Week abriu o espetáculo e foi seguida pela recente Save Us, que abre o disco New (2013), pela indispensável All My Loving e por duas preciosidades do catálogo dos Wings: Listen to What The Man Said e Let Me Roll It.
Para tocar Paperback Writer, Paul sacou a portentosa guitarra Epiphone Casino, a qual, segundo ele, foi usada na gravação da música em 1966. My Valentine, do álbum Kisses on the Bottom (2012), foi oferecida para a atual esposa dele, Nancy Shevell, com imagens de Natalie Portman e Johnny Depp ao fundo interpretando a canção na língua de sinais. Era o início da série de tributos que marcou a noite, relembrando os já citados Lennon e Harrison, além de Linda McCartney – morta em 1998, a fotógrafa, esposa e parceira musical de Paul nos Wings teve a magnífica Maybe I’m Amazed dedicada a ela.
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Sozinho com um violão, Paul tocou Blackbird de cima de uma estrutura elevada, um dos melhores momentos da apresentação. Chega a ser espantoso como ele é capaz de alternar momentos explosivos com outros inacreditavelmente intimistas, nos quais faz um estádio gigantesco parecer um barzinho minúsculo de Liverpool. Algumas músicas depois e o palco já estava literalmente pegando fogo ao som de Live and Let Die.
Se o evento teve algum ponto baixo, a culpa não foi de McCartney. A chuva insistente não ajudou, travando o trânsito e provocando alagamentos nas redondezas do Allianz Parque. O temporal, entretanto, foi um imprevisto. Era perfeitamente razoável evitar o posicionamento das três altas estruturas metálicas que atrapalharam a visão de quem estava nas arquibancadas. Teve gente que precisou deixar as cadeiras e encontrar lugar nas escadas para conseguir enxergar alguma coisa.
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A saída do estádio também foi problemática. Como o show acabou depois da meia-noite, a estação de metrô mais próxima estava fechada e os ônibus eram escassos nas avenidas Pompeia e Francisco Matarazzo. Os taxistas, por sua vez, ignoravam os pedidos da maioria dos pedestres e davam preferência às corridas mais distantes. A realização de grandes eventos no local exige uma oferta diferenciada de transporte público na região, principalmente com mais linhas de ônibus, o que, espera-se, aconteça das próximas vezes.
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De volta ao espetáculo, é assustador como tanto talento pode caber em uma só pessoa. A capacidade que Paul McCartney tem de compor melodias simples, mas profundamente sofisticadas, é única em toda a música pop. Não há quem possa competir com ele nesse quesito. Foi essa característica que lhe rendeu esse catálogo de músicas assombroso de tão rico, lapidado nas quase seis décadas de carreira, e um know-how ímpar a respeito de como agradar geração após geração nos mais diversos lugares do mundo. Volte quando quiser, Paul.