O segredo do Julinho
Mesmo em uma cidade com restrições, Julinho Clube trouxe à Rua Mourato Coelho um bar onde se entra sem hora para sair

A região de Pinheiros, Vila Madalena sempre teve música boa. Desde os tempos do banquinho e violão e lugares como o Lira Paulistana, Vou Vivendo, Aeroanta, Blen Blen e Studio SP. O bairro foi o epicentro da vanguarda e da boemia paulistana.
Mas essa tradição, que parecia tão natural na vida da cidade, foi se perdendo. A noite do bairro (e da cidade) perdeu esse fio condutor da MPB ao vivo, que unia gerações, histórias e repertórios.
Nesse período nasceu o Bar do Julinho — ou Julinho Clube. Criado em 2008 pelo músico Júlio Cesar Oliveira, o bar não foi pensado por empresários em busca de novas tendências. É um espaço feito por um músico para outros músicos, onde todo o couvert artístico arrecadado vai para os artistas.
O ambiente é pequeno, intimista, aconchegante. A programação é diversa, mas sempre fiel ao DNA da música brasileira. Rodas de artistas onde não há hierarquia, tocam os clássicos da nossa música.
O público entendeu rápido: filas, badalação e madrugadas que terminam quando já é dia. É, acima de tudo, território afetivo para quem ama a noite paulistana.
Mesmo com tantas perseguições e restrições que a noite da cidade vem sofrendo nos últimos anos, o Julinho fez a Rua Mourato Coelho voltar a ter um bar onde se entra sem hora para sair, onde a música é protagonista.
Recentemente as novas gerações redescobriram a MPB. Nossos mestres maiores Caetano, Chico, Gil, Djavan e Paulinho estão reunindo multidões em estádios, festivais e – graças aos deuses da democracia – também nas ruas.
Esse é o momento para essa importante retomada da MPB ao vivo nas madrugadas da cidade. Que outros empreendedores criativos sigam o exemplo do Julinho, que faz São Paulo se lembrar de quem era e a musica popular brasileira voltar a ser nossa identidade. Toda noite.