A história esquecida de Charlotte Maluf, joalheira underground dos anos 90
Ela ganhou espaço com peças de caveiras e crucifixos
A designer de joias Charlotte Maluf (1959-2005) ficou conhecida nos anos 90 ao produzir peças de ouro e prata com crucifixos e escaravelhos. “Naquele tempo, não era fácil achar colares e brincos com uma pegada rock’n’roll”, lembra a artista Ida Feldman, que guarda um bracelete com uma caveirinha feito pela amiga. A originalidade da ourives, nascida em Santo André, cativou uma clientela ampla, que incluiu, por exemplo, o estilista Dudu Bertholini. “Ela também criou itens para a novela A Viagem (1994) e para o remake de Pecado Capital (1998)”, recorda o produtor cultural Heitor Werneck.
O sucesso não foi suficiente para cravar o nome de Charlotte na posteridade. Com registros breves na internet e em catálogos de exposições, sua trajetória é uma colcha de retalhos, tecida por meio de relatos de colegas e familiares. “Charlotte amava as bandas Sonic Youth e The Exploited”, conta o designer José Alfredo de Barros, companheiro de baladas. “Ela não se categorizava. Para as pessoas transexuais e todo mundo, seu legado consiste na crença de que devemos estar onde quisermos”, diz a publicitária Neon Cunha, que ajudou Charlotte a criar o logo do Vulcano, ateliê da profissional em Santa Cecília.
“Ela acordava cedo e ia logo para lá”, afirma o fotógrafo Celso Tavares. O jornalista Ricardo Maluf é quem arremata o perfil, dando um toque imaginativo à figura da tia, conhecida pelo sorriso aberto e pelo humor: “Da fase em que Charlotte ficou fora do Brasil, tinha uma história de ela buscar pedras preciosas na África, no lombo de um elefante”.