Oscar 2025 deixa gosto amargo, mas tem resultado justo e merece ser celebrado
Brasil volta para casa com sua primeira estatueta dourada; grande surpresa da noite foi vitória de Mikey Madison

O Oscar 2025 foi uma das premiações mais acirradas dos últimos tempos. Poucas categorias tinham líderes incontestáveis antes da cerimônia começar — o que deixou a temporada muito mais interessante.
O grande vencedor da noite foi Anora, com cinco prêmios (filme, direção, atriz, roteiro original e montagem), seguido por O Brutalista, com três (ator, fotografia e trilha sonora).
Diretor de Anora, Sean Baker fez história ao se tornar a primeira pessoa a receber quatro estatuetas por uma única produção. Assim, a premiação exaltou o cinema independente e voltou a mostrar interesse e apreço por obras autorais e autênticas, com orçamentos menores.
Foi um grande acerto do comitê de votação, não só pelo movimento, mas também porque o filme merece mesmo: é um deleite. Esta coluna da Vejinha previu a vitória na maioria das categorias.
A grande surpresa da noite foi, no entanto, a derrota de Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui) e Demi Moore para Mikey Madison (Anora) em melhor atriz. Antes do Oscar, a jovem de 25 anos chegou a ganhar o Bafta e o Spirit Awards, mas quem mais teve reconhecimento de outros prêmios foi Demi, que era a mais cotada pela mídia americana.
Não dá para negar, as três tiveram um desempenho excepcional e são merecedoras. Mikey aprendeu russo e passou meses treinando pole dance para uma cena de 10 segundos. Demi arriscou-se em um estilo totalmente diferente e repaginou a carreira. Fernanda é o eixo central e fundamental da narrativa.
Especulava-se que, pela divisão de votos, principalmente dos integrantes que têm mais familiaridade com a língua inglesa, o caminho estaria livre para Fernandinha levar o Oscar e ir mais longe que a mãe, Fernanda Montenegro, que só foi indicada, em 1999, pela atuação em Central do Brasil.
Não foi desta vez. Mas, apesar da decepção, os brasileiros vibraram com a vitória do longa de Walter Salles como melhor filme internacional. Foi a primeira estatueta dourada do Brasil na história da premiação e isso já é mais que motivo para comemorar.
Ainda Estou Aqui desbancou Emilia Pérez, do francês Jacques Audiard, que era o favorito entre os concorrentes até meados de janeiro. Chegou a vencer prêmio em Cannes no ano passado. Mas a polêmica com a atriz Karla Sofía Gascón, envolvendo declarações em entrevistas e posts no X (antigo Twitter), sem dúvidas, arruinou as chances do filme.
Os outros candidatos na categoria (A Garota da Agulha, A Semente do Fruto Sagrado e Flow) eram igualmente bons à obra de Salles, mas o prêmio foi adequado.
Nos discursos, um tema bem presente e frequentemente mencionado foi a questão da imigração. Os Estados Unidos estão realizando deportação em massa do país e alguns dos premiados, como Zoe Saldaña e Adrien Brody, defenderam a presença do povo de suas origens.
Os reconhecimentos à animação Flow, de Gints Zilbalodis, e a Sem Chão, de um coletivo palestino-israelense, também são exemplos dessa preocupação digna da Academia. O comitê de votação prova estar mais jovem e diverso do nunca.
Mesmo com as novas perspectivas, algumas coisas continuam iguais: o gênero de terror e horror ainda não agrada a maioria dos votantes e A Substância ganhou apenas o título de maquiagem e cabelo, mesmo com todo o burburinho que gerou; e a experiência das telonas segue reinando como preferência do comitê — como pontuou Sean Baker em discurso —, sem essa história de revolução do streaming.
Em geral, deixa um gosto amargo, depois de toda a expectativa dos brasileiros, mas, querendo ou não, apresenta um resultado minimamente justo.
Pelo menos a Fernanda levou o Globo de Ouro…