Almodóvar reflete sobre finitude com elenco sublime em ‘O Quarto ao Lado’
Tilda Swinton e Julianne Moore criam dinâmica fascinante para dupla protagonista, abordando com leveza o assunto complexo da eutanásia
Em seu primeiro longa-metragem em inglês, Pedro Almodóvar segue fiel ao seu estilo e essência. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, O Quarto ao Lado, em cartaz nos cinemas, mistura drama e comédia com espontaneidade. O diretor e roteirista espanhol trata de um tema profundo e complexo — a eutanásia, ou suicídio assistido — com leveza e uma irreverência espirituosa.
No elenco, Tilda Swinton consolida-se como uma “chica Almodóvar”, após estrelar o curta A Voz Humana (2020), e une forças com Julianne Moore, estreante na filmografia do cineasta. Elas interpretam duas jornalistas, amigas de longa data, que enfrentam um dilema moral em uma situação de vida e morte.
Diagnosticada com um câncer em estágio avançado e sem tratamento, a repórter de guerra Martha (Tilda) decide pôr um fim à sua vida e, como um dos últimos desejos, procura uma companhia para não ficar sozinha. Recorre a Ingrid (Julianne), escritora de autoficção, com quem já trabalhou, mas havia perdido o contato por um tempo.
Desenrola-se, então, uma série de questionamentos sobre morte, amizade e família. Este último aspecto surge com a filha de Martha, que nunca perdoou a ausência da mãe, sempre dedicada ao trabalho. As atrizes protagonistas criam uma dinâmica carismática e fascinante, revelando seus contornos individuais e da relação.
Assim como as personagens, o longa reflete sobre a morte e ressignifica a finitude, de modo a encontrar momentos de alegria e doçura.
O filme começa em um ritmo tímido, mas logo evolui com a direção polida, a escrita inteligente e os visuais sofisticados, clássicos de Almodóvar.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916