Festival de Veneza: Brasil tem presença forte e leva mais de um prêmio
Além de 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles, país levou prêmio inédito em mostra paralela
O cinema brasileiro brilhou na 81ª edição do Festival de Veneza, que terminou no sábado (7) no Palazzo del Cinema. O grande destaque foi o prêmio de melhor roteiro para Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles, escrito por Murilo Hauser e Heitor Lorega.
O longa conta a história real de Eunice Paiva, mãe de Marcelo Rubens, interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em diferentes idades. Após o desaparecimento do marido Rubens (Selton Mello) durante a ditadura, ela virou um símbolo da luta contra o regime militar.
A inspiração para o filme veio do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva sobre a história dos pais. Segundo o diretor, a equipe passou sete anos trabalhando no texto até chegar a versão final, de número 15.
A última vez que o Brasil venceu na seleção oficial do festival italiano foi em 1981, com Eles não usam Black-tie, de Leon Hirszman. Neste ano, o país também foi reconhecido nas mostras paralelas.
Na Giornate Degli Autori, dedicada a novos cineastas, com estilos inovadores, Marianna Brennand ganhou o título de melhor direção por Manas e tornou-se a primeira cineasta brasileira a vencer na categoria.
O filme rodado na região amazônica fala sobre uma jovem de 13 anos que decide confrontar o sistema violento que rege em sua comunidade. “Foi um reconhecimento da potência do filme, num ano com presença brasileira tão forte, Walter Salles e diretoras brasileiras”, comenta Marianna.
A cineasta Petra Costa também passou pelo evento com a primeira exibição mundial de seu novo documentário, Apocalipse nos Trópicos, que aborda a influência exercida por líderes religiosos na política do Brasil.
“Foi muito emocionante a recepção do filme, depois de passar quatro anos fazendo a sua produção”, conta a diretora. “Eles estão passando por um momento político parecido e deu para sentir na pele que isso reverberou lá”, acrescenta.
Estreou ainda o curta Minha mãe é uma vaca, de Moara Passoni, na mostra competitiva Orizzonti, que acompanha Mia (Luísa Bastos), uma garota de 11 anos em suas indagações sobre a experiência radical de vida e morte na natureza.
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910