‘O Clube das Mulheres de Negócios’ quer arrancar as cabeças do patriarcado
Novo filme de Anna Muylaert é delírio coletivo brutal com inversão dos papéis de gênero e elenco estrelado
Uma voracidade fatal domina O Clube das Mulheres de Negócios. O novo filme de Anna Muylaert gera uma comoção inegável, seja o riso satírico ou o choque do suspense e da crítica social. Pode-se dizer que o longa quer arrancar as cabeças — literalmente — do patriarcado, sem hesitar. Para isso, vira o sistema de ponta cabeça.
Nesta ficção, são as mulheres que abusam do poder e dos homens, que por sua vez ocupam uma posição submissa. O “fotógrafo homem” Jongo (Luís Miranda) e o repórter novato Candinho (Rafael Vitti) vão ao clube que dá nome ao longa para passar um dia com as tais mulheres e produzir uma reportagem.
Um grande elenco dá vida às matriarcas, das quais ganham destaque pelas performances a presidente Cesárea (Cristina Pereira), a criminosa Norma (Irene Ravache), a latifundiária Yolanda (Grace Gianoukas) e a cantora de funk Kika (Polly Marinho).
A inversão nos papéis causa situações cômicas e absurdas. Enquanto pequenos comentários no roteiro evidenciam as microviolências na vida real, cenas impactantes, como a de um assédio sexual, denunciam o machismo, questionam normas e limites e simbolizam um desejo de reparação histórica por todos os males. A tensão é potencializada quando as onças de estimação escapam das gaiolas.
O longa cria interlocuções interessantes com obras como a peça King Kong Fran, de Rafaela Azevedo, e o livro Sobre Os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk.
É um daqueles filmes que mexe com o espectador e gera reação e discussão. Anna Muylaert demonstra o poder da autoralidade.
NOTA: ★★★☆☆
Publicado em VEJA São Paulo de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921