‘O Agente Secreto’ é um acontecimento cinematográfico com elenco precioso
Wagner Moura estrela suspense de Kleber Mendonça Filho, que disputa indicação ao Oscar e é diferente de tudo que você já viu
O país volta às atenções para as telonas para celebrar e torcer, novamente, por um filme nacional. Desta vez, a expectativa deve ser um pouco diferente. O Agente Secreto impressiona tanto quanto Ainda Estou Aqui, mas tem outra pegada. Enquanto o filme de Walter Salles segue uma linha cronológica e uma abordagem dramática mais clássica, o de Kleber Mendonça Filho rompe moldes e formatos. É ousado e diferente de tudo que você já viu.
Cabe ao espectador desvendar e desenhar a trama misteriosa na cabeça. O diretor nos dá pistas a cada cena, com “recompensas” por cada peça do quebra-cabeça, abordagem fundamental para entreter o público durante as quase 3 horas de duração — que passam voando. Mesmo quando se dá conta do enredo, ainda sobra espaço para confabulação.
Não por acaso, a habilidade de condução narrativa garantiu ao cineasta o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes deste ano. O único outro brasileiro a conseguir o título foi Glauber Rocha (1939-1981), em 1969.
Em 1977, o especialista em tecnologia Marcelo (Wagner Moura) tenta deixar para trás um passado enigmático e retorna ao Recife. No entanto, lá descobre que está envolvido em uma trama de segredos e tensões.
A bela direção de arte reconstrói de modo fascinante o Recife dos anos 1970. Referências e elementos brasileiros, como La Ursa e a perna cabeluda, enriquecem muito a narrativa e ajudam a criar o clima de tensão, suspense e até medo e paranoia, que é intrínseco àquela época — e tem paralelos com filme Tubarão (1975), uma referência declarada do cineasta.
Ao mesmo tempo, trazem um tom irônico, principalmente no caso da perna cabeluda, que envolve e cria empatia pelas pessoas da história.
Wagner Moura encanta e capta todos os sentimentos de Marcelo nos silêncios. Mas merece ainda mais elogios o elenco de apoio: Tânia Maria rouba a cena, com um timing cômico perfeito; Alice Carvalho está hipnotizante; e Maria Fernanda Cândido protagoniza com sucesso um momento revelador. Graças ao casamento entre performance e roteiro, todos os personagens, valiosíssimos, são completos e têm camadas.
O Agente Secreto é o pináculo da cinematografia de Kleber. Tem um pouco de cada filme, da questão política, à memória, ao apreço pelo Recife.
Estreia em 6 de novembro.
NOTA: ★★★★☆
O Agente Secreto nos festivais de cinema
O longa de Kleber Mendonça Filho tem trilhado uma bela trajetória em festivais. Levou um grupo de frevo ao tapete vermelho do Festival de Cannes, onde ganhou três prêmios: melhor diretor, melhor ator para Wagner Moura e melhor filme pela Federação Internacional de Críticos. Lá, ainda fechou parceria com as distribuidoras Neon e Mubi.
Nas últimas semanas, atraiu multidões a exibições especiais na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como destaque nacional.
Não por acaso, foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional — lista de indicados sai em janeiro.
Publicado em VEJA São Paulo de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968
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