É de um primor extraordinário todo o trabalho envolvido em Estranho Caminho. O diretor cearense Guto Parente (Estrada para Ythaca) começou a traçar o percurso da obra em abril de 2020. Com as restrições da pandemia, ficou isolado e reconstituiu a perda do pai. “Depois que ele morreu, em 2017, eu tinha uma vontade grande de fazer um filme que permitisse me reconectar”, conta.
O fruto desse processo foi a história de David (Lucas Limeira), um jovem cineasta que volta a Fortaleza, sua terra natal, para lançar seu primeiro longa. Com o avanço da Covid-19, se vê obrigado a procurar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), com quem não fala há mais de dez anos. Mas o reencontro não ocorre da melhor forma e acontecimentos estranhos afetam o convívio.
As filmagens foram realizadas em 2021, após uma forte onda de casos de coronavírus, que desafiou a produção, ainda mais nas cenas em hospital e aeroporto. O projeto superou as dificuldades e chega agora aos cinemas como um dos melhores do ano, após ser premiado em Tribeca, no Rio e em Tiradentes.
![ESTRANHO CAMINHO 05.jpg Carlos Francisco dá vida ao peculiar Geraldo em 'Estranho Caminho'](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/08/ESTRANHO-CAMINHO-05.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
![ESTRANHO CAMINHO 04.jpg Fotografia de Linga Acácio](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/08/ESTRANHO-CAMINHO-04.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
O roteiro equilibra comédia com drama e proporciona profundas reflexões sobre luto e “incomunicabilidade” entre pai e filho, como descreve Parente. “É uma história pessoal, mas tem essa sensação universal”, analisa. Houve colaboração dos atores para construir o texto. “Durante os ensaios, surgiram muitas questões minhas. No dia seguinte, o Guto chegava com a cena alterada”, afirma limeira.
Outra atenção especial foi a montagem, que levou vinte meses — o corte final é o de número 40. A fotografia tem tanta personalidade que fala por si e o elenco destaca-se pelo timing humorístico.
O diretor acrescenta um caráter experimental autêntico à narrativa e executa com maestria a proposta. Tudo se concretiza com a mensagem ao final: “Para Geraldo, meu pai, e todos os nossos mortos”.
NOTA: ★★★★★