‘Back to Black’ faz Amy Winehouse parecer só mais um número da indústria
Filme dirigido por Sam Taylor-Johnson não aborda responsabilidade do pai e do ex-marido da cantora em sua trajetória
✪✪ Antes mesmo de chegar aos cinemas, Back to Black, cinebiografia de Amy Winehouse (1983-2011), já foi motivo de polêmica. A diretora Sam Taylor-Johnson disse, em entrevistas à imprensa americana, que seu objetivo era contar a história da estrela da música pela perspectiva da própria.
Havia em seu discurso uma crítica implícita ao documentário Amy (2015), de Asif Kapadia, que ganhou o Oscar e trouxe entrevistas com familiares e amigos, de um certo modo culpando todos ali pela sua morte precoce — devido à intoxicação por álcool, em 2011.
A proposta de Sam seria honesta, não fosse por sua perspectiva ponderada do pai, Mitch Winehouse, e do ex-marido, Blake Fielder-Civil. Mitch virou alvo de escrutínio público após ser acusado pela mídia britânica de explorar o sucesso da filha pensando na própria carreira, enquanto Blake admitiu ter iniciado a namorada nas drogas.
O novo filme não toca nesses assuntos de modo intencional. Com o roteiro de Matt Greenhalgh, a ideia era “fazer algo diferente do que já foi divulgado”, segundo entrevista da diretora à revista Variety. O foco é a relação amorosa de Amy (interpretada por Marisa Abela) com Blake (Jack O’Connell), narrada no disco Back to Black (2006).
Mesmo com uma boa performance de Marisa, o filme faz uma personalidade única parecer só mais um número da indústria.
Publicado em VEJA São Paulo de 24 de maio de 2024, edição nº 2894