Avatar do usuário logado
OLÁ,
Imagem Blog

Vinho e Algo Mais

Por Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Especialista na bebida, Marcelo Copello foi colunista de Veja Rio. Sua longa trajetória como escritor do tema inclui publicações como a extinta Gazeta Mercantil e livros, entre eles "Vinho e Algo Mais" e "Os Sabores do Douro e do Minho", pelo qual concorreu ao prêmio Jabuti

Apogeu do vinho: momento em que a bebida revela o auge da complexidade

O chamado ápice acontece quando a garrafa atinge o equilíbrio ideal entre juventude e decadência. Entenda

Por Marcelo Copello
16 Maio 2025, 06h00
Vinho sendo colocado no decanter e taça ao lado
Apogeu dos vinhos: ponto em que o vinho atinge seu equilíbrio ideal (Freepik/Divulgação)
Continua após publicidade

Há vinhos que se oferecem jovens, vibrantes, cheios de fruta, como um abraço entusiasmado. Outros, porém, pedem tempo — e nos convidam à paciência. Estes amadurecem, evoluem e revelam com os anos sua verdadeira grandeza. Para o apreciador com “litragem”, poucas experiências são tão sublimes quanto abrir uma garrafa no momento certo, quando ela alcança seu apogeu.

O apogeu é o ponto em que o vinho atinge seu equilíbrio ideal entre juventude e decadência. Antes disso, pode estar fechado, duro, marcado por taninos agressivos ou por madeira ainda sobressaindo. Depois, perde vitalidade, desce a ladeira do tempo, tornando-se flácido, oxidado, cansado. Encontrar o momento certo é uma arte — e uma sorte.

Rótulos com potencial de guarda são, em geral, estruturados, com boa acidez e taninos, vindos de safras equilibradas e de regiões clássicas. Bordeaux, Barolo, Rioja Gran Reserva, Champagne vintage, alguns grandes tintos do Douro, da Borgonha, do Rhône. Mas nem todo vinho envelhece bem — e muitos simplesmente não foram feitos para superar o tempo.

Ainda assim, mesmo um grande vinho não chega bem à maturidade se as condições forem adversas. A qualidade da rolha é crucial: um bom vedante garante o microoxigênio necessário para a evolução lenta e nobre do vinho. Uma rolha defeituosa — ressecada, porosa ou sem qualidade — pode comprometer toda a jornada.

Da mesma forma, a guarda correta é determinante. Temperaturas constantes (idealmente entre 12°C e 15°C), umidade equilibrada e ausência de luz direta são fatores essenciais. A adega climatizada, antes um luxo, tornou-se uma aliada indispensável para quem deseja ver seus vinhos chegarem ao auge com dignidade.

Continua após a publicidade

Quando maduros, esses vinhos ganham camadas aromáticas de rara complexidade. Frutas frescas dão lugar a notas de trufa, couro, tabaco, cogumelos, chá-preto, flores secas. Brancos evoluídos podem lembrar mel, cera, nozes, damasco seco. Os taninos se integram, a sensação de acidez suaviza, o vinho se torna mais macio, sutil, contemplativo.

Degustar um vinho no seu apogeu exige mais do que técnica — exige escuta. É preciso desacelerar e abrir os sentidos. A experiência vai além da boca: é memória, é tempo engarrafado. Um grande vinho maduro nos fala da safra, do lugar, da história da vinícola e, se o conhecemos jovem, do quanto ele mudou — e do quanto nós mudamos também.

Por isso, envelhecer vinhos é também um gesto poético. Guardar garrafas é confiar no tempo. É aceitar que o melhor pode não ser agora. É beber menos para beber melhor. Em tempos de pressa e imediatismo, abrir um vinho com quinze, vinte ou trinta anos é um ato de resistência — e de recompensa.

Continua após a publicidade
Duas garrafas com rótulos de vinhos
Sugestão de rótulos (Reprodução/Divulgação)

Albert Bichot Pommard 2019. Albert Bichot é negociante em Beaune desde 1831. Pommard, uma AOC da Borgonha com solo argilo-calcário mais pesado, conhecida pelos seus tintos mais robustos (sempre 100% pinot noir), de taninos mais presentes, com certa rusticidade e bom potencial de guarda. Este tem aromas de cereja preta, bosque úmido, madeira. Paladar com taninos firmes, boa acidez e potencial de guarda. R$ 849,90, na Wine.

Campo alle Noci Brunello di Montalcino 2019. 100% com uvas sangiovese grosso, com trinta meses em barricas de carvalho da eslavônia. Aromas de frutas vermelhas maduras, tabaco, couro e especiarias. Na boca, é estruturado, elegante, com taninos firmes. Ainda jovem, com potencial de guarda de ao menos dez anos. R$ 499,90, na Evino.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA São Paulo de 16 de maio de 2025, edição nº 2944.

BAIXE O APP COMER & BEBER E ESCOLHA UM ESTABELECIMENTO:

IOS: https://abr.ai/comerebeber-ios

ANDROID: https://abr.ai/comerebeber-android 

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

A partir de 35,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.