Apogeu do vinho: momento em que a bebida revela o auge da complexidade
O chamado ápice acontece quando a garrafa atinge o equilíbrio ideal entre juventude e decadência. Entenda

Há vinhos que se oferecem jovens, vibrantes, cheios de fruta, como um abraço entusiasmado. Outros, porém, pedem tempo — e nos convidam à paciência. Estes amadurecem, evoluem e revelam com os anos sua verdadeira grandeza. Para o apreciador com “litragem”, poucas experiências são tão sublimes quanto abrir uma garrafa no momento certo, quando ela alcança seu apogeu.
O apogeu é o ponto em que o vinho atinge seu equilíbrio ideal entre juventude e decadência. Antes disso, pode estar fechado, duro, marcado por taninos agressivos ou por madeira ainda sobressaindo. Depois, perde vitalidade, desce a ladeira do tempo, tornando-se flácido, oxidado, cansado. Encontrar o momento certo é uma arte — e uma sorte.
Rótulos com potencial de guarda são, em geral, estruturados, com boa acidez e taninos, vindos de safras equilibradas e de regiões clássicas. Bordeaux, Barolo, Rioja Gran Reserva, Champagne vintage, alguns grandes tintos do Douro, da Borgonha, do Rhône. Mas nem todo vinho envelhece bem — e muitos simplesmente não foram feitos para superar o tempo.
Ainda assim, mesmo um grande vinho não chega bem à maturidade se as condições forem adversas. A qualidade da rolha é crucial: um bom vedante garante o microoxigênio necessário para a evolução lenta e nobre do vinho. Uma rolha defeituosa — ressecada, porosa ou sem qualidade — pode comprometer toda a jornada.
Da mesma forma, a guarda correta é determinante. Temperaturas constantes (idealmente entre 12°C e 15°C), umidade equilibrada e ausência de luz direta são fatores essenciais. A adega climatizada, antes um luxo, tornou-se uma aliada indispensável para quem deseja ver seus vinhos chegarem ao auge com dignidade.
Quando maduros, esses vinhos ganham camadas aromáticas de rara complexidade. Frutas frescas dão lugar a notas de trufa, couro, tabaco, cogumelos, chá-preto, flores secas. Brancos evoluídos podem lembrar mel, cera, nozes, damasco seco. Os taninos se integram, a sensação de acidez suaviza, o vinho se torna mais macio, sutil, contemplativo.
Degustar um vinho no seu apogeu exige mais do que técnica — exige escuta. É preciso desacelerar e abrir os sentidos. A experiência vai além da boca: é memória, é tempo engarrafado. Um grande vinho maduro nos fala da safra, do lugar, da história da vinícola e, se o conhecemos jovem, do quanto ele mudou — e do quanto nós mudamos também.
Por isso, envelhecer vinhos é também um gesto poético. Guardar garrafas é confiar no tempo. É aceitar que o melhor pode não ser agora. É beber menos para beber melhor. Em tempos de pressa e imediatismo, abrir um vinho com quinze, vinte ou trinta anos é um ato de resistência — e de recompensa.

Albert Bichot Pommard 2019. Albert Bichot é negociante em Beaune desde 1831. Pommard, uma AOC da Borgonha com solo argilo-calcário mais pesado, conhecida pelos seus tintos mais robustos (sempre 100% pinot noir), de taninos mais presentes, com certa rusticidade e bom potencial de guarda. Este tem aromas de cereja preta, bosque úmido, madeira. Paladar com taninos firmes, boa acidez e potencial de guarda. R$ 849,90, na Wine.
Campo alle Noci Brunello di Montalcino 2019. 100% com uvas sangiovese grosso, com trinta meses em barricas de carvalho da eslavônia. Aromas de frutas vermelhas maduras, tabaco, couro e especiarias. Na boca, é estruturado, elegante, com taninos firmes. Ainda jovem, com potencial de guarda de ao menos dez anos. R$ 499,90, na Evino.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de maio de 2025, edição nº 2944.
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