Em The White Lotus, sufocos da classe alta em hotel de luxo viram sátira
Produção da HBO Max possui roteiro afiado, repleto de críticas ao privilégio branco
O título da série The White Lotus, além de ser o nome do hotel em que a história se passa, remete à flor de lótus branca, cujo significado é a pureza de mente, espírito e corpo. Essa definição pacífica e acolhedora não deixa de ser irônica e incisiva — especialmente quando a primeira temporada chega ao fim.
Os seis episódios da produção possuem uma atmosfera intrigante e, ao mesmo tempo, debochada no que diz respeito aos próprios personagens. Todos fazem parte de uma “bolha” intocável de privilégios, protegida o suficiente para fazer com que todos se sintam satisfeitos apenas com a autoafirmação de serem pessoas do bem.
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Mas essa pureza de pensamento também pode ser um veneno. Mike White, criador, roteirista e diretor da série da HBO Max, se apropria de uma atraente mistura de sátira com drama, trazendo um resultado único que se enquadra mais como uma comédia desastrosa. Essa combinação de estilos, dentro de um resort de luxo no Havaí, apresenta personagens brancos que podem estar passando por situações diferentes, mas são praticamente iguais em essência.
Uma crise em plena lua de mel, os problemas de relacionamento em uma família liberal e o luto de uma mulher de meia-idade que perdeu sua mãe são algumas das subtramas. Mas o que mais se destaca é o papel desempenhado pelos funcionários do resort: eles são vistos como meros apoios emocionais ou sacos de pancada pelos hóspedes — que, por sua vez, estão totalmente imersos em seus “sufocos”. Entre um drinque e outro, as tensões vão crescendo e as provocações do roteiro também.
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Publicado em VEJA São Paulo de 1° de setembro de 2021, edição nº 2753