Bergman Island utiliza metalinguagem para homenagear cineasta sueco
Na 45ª Mostra SP, filme de Mia Hansen-Løve apresenta dois personagens em busca de inspiração
✪✪✪✪ Bergman Island, filme exibido no Festival de Cannes 2021, é um dos títulos apresentados na 45ª Mostra Internaciona de Cinema em São Paulo. Dirigido por Mia Hansen-Løve, a obra é contemplativa a ponto de aproximar ou distanciar espectadores na mesma medida.
Isso porque a história de ficção se movimenta constantemente a partir da vida real e do cinema em si. Um casal de cineastas viaja até a ilha de Faro, local onde o diretor sueco Ingmar Bergman viveu, para escrever seus respectivos novos filmes. Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth) querem beber da mesma fonte de inspiração de Bergman, autor de Gritos e Sussurros, Cenas de um Casamento, O Sétimo Selo e tantos outros clássicos absolutos.
Essa mistura de realidade com ficção se choca a todo o instante, a ponto de entrarmos na própria mente de Chris enquanto ela conta ao marido a essência de seu novo roteiro. Sob o olhar de Hansen-Løve, a metalinguagem presente no universo ficcional – que, por sua vez, já se encontra dentro de uma ficção – é encantadora.
Por outro lado, mais encantador ainda é observarmos a “ilha de Bergman” como ela é. Personagens (alguns realmente suecos) falam sobre a ilha e os filmes que permanecem no imaginário popular, visitam a casa onde o cineasta viveu e até mesmo manifestam xingamentos a Bergman. Tudo se mistura numa espécie de homenagem honesta, que não tira de vista os pontos negativos da figura – especialmente no âmbito pessoal.
Bergman Island proporciona uma viagem ao quase que fantástico universo de Ingmar Bergman a partir do ponto de vista de uma cineasta em constante evolução. As diferentes camadas do filme apresentam romance em níveis desiguais e, ao mesmo tempo, complementares. E o resultado disso tudo – dessa combinação da clara admiração de Mia com sentimentos e tramas fictícias – é tão pessoal quanto universal.