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Quebrando “barreiras mentais” na corrida de rua

Como o esporte ajudou Andrei Spinassé, jornalista especializado no assunto, a vencer seus limites

Por Andrei Spinassé, em depoimento a Helena Galante
Atualizado em 26 ago 2022, 13h11 - Publicado em 26 ago 2022, 06h00
Desenho de uma maratona
 (GETTY IMAGES/JORGENMAC/Reprodução)
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Demorei sete anos para me entender com a corrida de rua. Mesmo sendo um autor especializado em running, não sentia, até 2020, que eu verdadeiramente era um corredor de rua. Não conseguia extrair da experiência de correr o que ela de melhor pode me oferecer. Nem sequer imaginava o que isso poderia ser.

+ Uma grande responsabilidade

Durante os treinos pré-pandemia de Covid-19, não via a hora de encerrá-los. Ao sentir uma vibração do telefone celular, já pensava que poderia ser uma notificação de mensagem de trabalho. A atividade estava perdida, pois meu foco já havia ido “para o espaço”. Simplesmente não tinha cabeça para “longões”, já que não conseguia dedicar algumas horas do dia ao meu bem-estar sem distrações.

Sem eventos para correr/cobrir aos domingos, já que estavam paralisados, e com os parques de São Paulo ainda fechados aos fins de semana, as ruas me chamaram a partir de julho de 2020, quando efetivamente voltei a praticar exercícios físicos ao ar livre depois de quatro meses de interrupção. Morando no bairro da Aclimação, na região central da capital paulista, o primeiro desafio impôs-se: a Avenida Lins de Vasconcelos, que liga o Largo do Cambuci à estação de metrô Vila Mariana.

Em uma das primeiras vezes em que subi essa via, algo inesperado aconteceu: um dos fones de ouvido que utilizava caiu dentro de um buraco, quase no meio-fio, mas ainda na calçada, em frente a um condomínio residencial de classe média alta. O porteiro inicialmente achou que eu estava passando mal, mas ficou aliviado ao perceber que havia agachado para tentar resgatar o equipamento. Ele me auxiliou e, acabado o resgate, ainda permitiu que eu lavasse as mãos no banheiro da portaria.

+ O lugar de ser feliz!

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Depois disso, comecei a correr sem fones de ouvido, isto é, lidando diretamente com meus próprios pensamentos, sentimentos e sensações. Isso, sem dúvida, mudou o jogo para mim. A partir daí, outro elemento se revelou: a própria cidade. Ao olhar para dentro e para frente, minha abordagem da corrida transformou-se totalmente: a cada domingo, voltava para casa com uma história para contar para minha esposa, Renata. São Paulo não era uma distração: passou a ser parte integrante da jornada.

À medida que as “amarras mentais” foram caindo, as distâncias percorridas foram aumentando: cheguei aos 21,097 quilômetros da meia maratona, que se tornou minha preferida. Elaborar o percurso do treino seguinte mostrava-se tão interessante quanto estudar o de uma prova. Pude, em um mesmo treino, passar em frente a lugares marcantes da minha vida, como o cursinho e a faculdade nos quais estudei e o hospital em que nasci, e deixar o pensamento correr solto comigo. Nesses momentos sublimes, parecia que não estava fazendo nenhum esforço para correr.

Considerando aquela minha “aversão” a distâncias maiores, antes da pandemia eu não acreditava que um dia pudesse completar uma maratona (42,195 quilômetros), porém, esse se tornou, incrivelmente, um objetivo alcançável. No dia 7 de novembro de 2021, a última “barreira” foi eliminada: cheguei ao fim da Maratona de Barcelona, na Espanha, na qual havia me inscrito em setembro de 2021. Hoje, me preparo para a segunda maratona. Nada é mais feliz do que colocar corpo e mente no mesmo lugar para correr.

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Andrei Spinassé
Andrei Spinassé (@andreispinasse) é jornalista especializado em corrida. Desde 2013, já participou de mais de uma centena de eventos da modalidade para escrever reportagens para seu site, o Esportividade (esportividade.com.br). (André Assumpção/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 31 de agosto de 2022, edição nº 2804

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