Casarão dos Trovadores Urbanos, em Perdizes, vira a Casa do Afeto
Maída Novaes, criadora do grupo, transformou sede em espaço de música, carinho e união
Você já deve estar cansado(a) de ver gente discutindo pela internet. Se ficasse só na internet, até podia passar batido ou ser menos nocivo. Mas esse clima pesado das pessoas se afastando por causa de diferenças de pensamentos é um vírus. A gente não pode deixar espalhar. Já basta aquele que nos separou à força, quando precisamos ficar em casa esperando a saúde do planeta melhorar.
Com tudo isso, eu vi uma São Paulo sem afeto. Não gosto de ver minha cidade assim. O momento mexeu com minha cabeça e uma casinha amarela inspirou meu coração. Nascia assim a Casa do Afeto, a vacina que eu inventei para barrar a proliferação da falta de amor em São Paulo.
Peguei a Casa dos Trovadores, um casarão amarelo localizado no bairro de Perdizes, para transformá-la num local de afeto, com o objetivo de humanizar, sensibilizar e conectar moradores desta grande cidade de mais de 12 milhões de habitantes. Eu quis trazer uma reflexão sobre a necessidade de olharmos para dentro de nós mesmos, para o outro, perceber a maneira como estamos vivendo, sensibilizar os paulistanos. Não podemos ser uma sociedade com uma vida interior esvaziada, onde tudo é superficial e breve. Nessa casa foi construído um espaço que entra na vida da cidade. A ideia é conectar pessoas por meio de uma linguagem amorosa, sustentável e transformadora.
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Para quem não sabe, a Casa dos Trovadores tem seu embrião na história de 32 anos dos Trovadores Urbanos, grupo de seresteiros com mais de 100 000 homenagens realizadas desde 1990. Muita gente já teve afeto de seus entes queridos expresso por esse trabalho em tantos pedidos de namoro, aniversários de casamento e as mais diversas comemorações. Uma arte que deu e continua dando muitos frutos. Por isso que eu sempre digo que a arte mais nobre é fazer as pessoas felizes, e a Casa do Afeto está proporcionando experiências de afeto aos moradores de São Paulo, um lugar onde as pessoas são surpreendidas por bons sentimentos, reflexões, promovendo uma transformação na linguagem entre os moradores vizinhos.
Um exemplo: toda sexta-feira tem seresta da janela da casa, gratuita, com visitas a uma sala dedicada ao seresteiro Silvio Caldas, com fotos e áudios do artista e um chão de estrelas. Na programação, saraus musicais, rodas de afeto, oficinas afetivas para todas as idades. No último mês, por exemplo, o lema foi “Haja amor pra onde a gente flor”. Os visitantes que passaram por lá receberam flores e toda a casa ficou enfeitada de primavera.
Eu aprendi que, quanto mais a gente divide o amor, mais ele se multiplica. Por enquanto é uma semente plantada, algo ainda incipiente. Mas, se cada pessoa que passar por lá ajudar a espalhar esse conceito e fizer de seu espaço um lugar de carinho e afeto, se perfumar suas palavras com a educação e a delicadeza que o outro merece ouvir, no carinho de um abraço fraterno, de um gesto de atenção, eu creio que uma São Paulo diferente pode estar nascendo.
Estou sonhando alto? claro. Não dá para ser diferente. Sonhando alto e com afeto.
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A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de outubro de 2022, edição nº 2811