Dogma, Proa e mais: o mapa sentimental de um cervejeiro
De Santa Cecília a Salvador, passando por Barcelona, uma viagem por cervejarias que explicam mais sobre gente e cidade do que qualquer guia de viagem.
Se tem uma coisa que eu levo a sério é cerveja boa. Não como especialista técnica de lúpulo e malte, mas como alguém que usa copo como desculpa pra observar gente, cidade e comportamento. Quando digo cervejarias que eu já desbravei, não é só sobre o teor alcoólico, é sobre o que cada lugar faz com a gente enquanto a gente bebe.
Aqui vai uma rota afetiva para cervejeiros como eu: entre São Paulo, Salvador e Barcelona.
A Dogma é o tipo de lugar que traduz bem o espírito de Santa Cecília: criativa, intensa, um pouco bruta, mas honesta.
Ali, as torneiras das cervejas artesanais parecem painel de controle de nave espacial: IPAs, sours, stouts, rótulos que você não consegue decorar, mas guarda pela sensação. É o lugar onde o cervejeiro nerd e a pessoa que “só quer tomar uma boa” dividem a mesma mesa alta sem crise.
O ambiente é uma espécie de fábrica mais bar. Nada de frescura demais. O charme está justamente em beber do lado de onde tudo é produzido. Você sente que está “no miolo” da coisa, não só consumindo, mas testemunhando. É rota perfeita pra quem gosta de juntar cerveja, conversa de trabalho, crush e brainstorm no mesmo balcão.
Se a Dogma é paulistana raiz, a Proa é soteropolitana na alma.
A Proa nasceu em Salvador com essa mistura de modernidade e praia, fábrica séria com clima leve. As cervejas têm identidade forte, mas não pedem carteira de sommelier pra serem apreciadas. Você consegue imaginar facilmente um copo de Proa depois da praia, antes do show, no esquenta do rolê ou na conversa longa no Rio Vermelho.
O que eu mais gosto é como a Proa traduz uma Bahia contemporânea, não caricatura de baianidade, é Bahia urbana, conectada, jovem, que entende de política, arte, design e ainda assim sabe brincar, rir alto e chegar tarde em casa.
Em Barcelona, a experiência muda de clima, mas não de essência. A cidade é um prato cheio para cervejeiros curiosos: bares pequenos, fábricas urbanas, gente de todo lugar do mundo. É o tipo de lugar onde você senta sozinho e em dez minutos está discutindo política, futebol ou música com alguém que nunca viu na vida.
A graça de Barcelona é ver como a cultura da cerveja artesanal vira mais um idioma. Você não precisa falar espanhol perfeito ou catalão; basta apontar pro tap, pedir recomendação e deixar o balcão fazer o resto.
No fim, essa rota não é só para quem gosta de cerveja. É para quem gosta de ver cidade de perto. Em São Paulo, a Dogma mostra a metrópole que se leva a sério, que estuda rótulo, discute amargor, fala de trabalho até no bar, mas que também sabe virar a chave e rir alto no meio da fábrica.
Em Salvador, a Proa mostra uma cidade que está se reinventando sem perder o sotaque, usando a cerveja como ponto de encontro de uma cena criativa que mistura cultura negra, mar, música e novos negócios.
Em Barcelona, a cultura cervejeira mostra como o Mediterrâneo também sabe ser laboratório de gente, ideia e história compartilhada.
Se você é cervejeiro como eu, talvez o que você busque não seja só “a melhor cerveja”, mas os melhores contextos. Lugares onde o copo é desculpa pra algo maior: pertencer, ouvir, observar, anotar mentalmente que o mundo é muito grande, mas cabe, por algumas horas, numa mesa de bar.
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