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Após vencer torneio nos EUA, brasileiro abre a própria cervejaria

Radicado nos Estados Unidos há 18 anos, o engenheiro de computação Cesar Marron, de 37 anos, decidiu começar a produzir cerveja em casa há quatro. “A ideia nasceu da paixão por cozinhar. Vejo a cerveja como alimento em forma líquida”, afirma ele, que é natural de Lençóis Paulista (SP). No final de 2012, ele começou […]

Por Tatiane Rosset
Atualizado em 26 fev 2017, 22h09 - Publicado em 24 abr 2014, 21h33
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O cervejeiro brasileiro e uma de suas produções caseiras.

Radicado nos Estados Unidos há 18 anos, o engenheiro de computação Cesar Marron, de 37 anos, decidiu começar a produzir cerveja em casa há quatro. “A ideia nasceu da paixão por cozinhar. Vejo a cerveja como alimento em forma líquida”, afirma ele, que é natural de Lençóis Paulista (SP). No final de 2012, ele começou a participar de concursos de cervejeiros caseiros, e arrematou 12 medalhas em 15 competições. A mais destacada delas veio no final de 2013, quando foi um dos dois vencedores do torneio Longshot, organizado pela Samuel Adams, uma das marcas precursoras do movimento artesanal norte-americano.

O prêmio inclui a produção da receita em escala comercial, o que ocorreu entre o final de fevereiro e o início de março deste ano. Cesar recebeu há alguns dias as garrafas – com um desenho seu no rótulo -, e avalia que a vitória deu impulso ao seu projeto de criar uma “nanocervejaria” na cidade em que vive – Evanston, em Illinois.

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Garrafa da Samuel Adams Grätzer, que leva caricatura do Brasileiro César Marron no rótulo. Ao lado, outra cerveja vencedora

Em sua décima edição, a competição reuniu mais de mil cervejas participantes e premiou, além do brasileiro, uma American Stout feita por um cervejeiro caseiro da Flórida e, em categoria separada, uma India Pale Ale com abacaxi produzida por uma funcionária da Samuel Adams. Cesar escolheu uma receita ao mesmo tempo histórica e inovadora para a disputa: uma Grätzer ou Grodziskie, cerveja de origem polonesa que leva malte de trigo e um tipo especial de malte defumado na composição.

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O estilo foi incluído em 2013 na lista de diretrizes da Brewers Association, entidade norte-americana que organiza concursos cervejeiros. “Tive de ajustar bastante a água que usei na produção, para ficar igual à empregada pelas fábricas na Polônia há 200, 300 anos. Também precisei usar um malte defumado em carvalho, diferente do utilizado em outros estilos de cerveja.” O cervejeiro admite que, pela receita inusitada, não esperava ganhar o concurso –o  que lhe rendeu um susto ao saber que estava entre os semifinalistas. “A organização pediu mais garrafas dela, e eu tinha enviado as últimas para outra competição. Tive de explicar a situação ao pessoal desse outro torneio, e buscar às pressas as garrafas, que estavam no meio de outras 1.200.”

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O brasileiro César Marron (esq.) e o cervejeiro da Samuel Adams Dean Gianocostas, em uma das plantas da fábrica

Um dos juízes do concurso da Samuel Adams, Norman Miller, do blog cervejeiro Beer Nut, escreveu que a escolha da cerveja do brasileiro gerou polêmica na mesa de avaliadores. “Alguns, eu entre eles, achamos que a cerveja era fenomenal e uma boa maneira de apresentar às pessoas um estilo polonês pouco conhecido, levemente defumado e feito com trigo. Outros juízes acharam que ela era muito fraca, mas ainda assim a cerveja venceu, deixando para trás outros excelentes finalistas.” De fato, a receita produzida comercialmente teve um acréscimo de força alcoólica – passou de 3,2% para 4,4% -, mas, segundo Cesar, manteve a essência da versão caseira. “Ela ficou bem leve, uma cerveja de verão, mas com um gosto perceptível de fumaça.”

Embora não tenha recebido dados oficiais sobre o volume de sua cerveja que foi produzido comercialmente, Cesar ficou impressionado com o alcance da distribuição da receita, que ocorreu em escala nacional. “No primeiro dia de vendas, o Untapdd (aplicativo que permite aos usuários analisarem cervejas e compartilharem suas impressões) registrou 170 avaliações dela.” Embora a bebida já não seja considerada artesanal por alguns microcervejeiros americanos pelo volume que produz anualmente, ela tenta se manter próxima ao conceito de craft brewing. “Acredito que o concurso, além de manter a raiz artesanal da marca, é uma forma de ajudar os caseiros a se desenvolverem.”

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César Marron posa com a garrafa da cerveja vencedora do concurso, que leva sua caricatura

E essa ajuda ocorreu  no projeto de criar a Sketchbook, que ele chama de “nanocervejaria”, em Evanston, onde mora. “Sem dúvida eu ter ganho o concurso ajudou no projeto, ao destacar a minha credibilidade e facilitar a busca por parceiros. Meu foco ao fazer cerveja em casa sempre foi aprender o máximo possível e agarrar a oportunidade quando ela surgisse.” Lançado após o concurso, um projeto Kickstarter dele e de seu sócio, com objetivo de arrecadar 15 mil dólares para a empreitada, atingiu a meta em quatro dias.

A cervejaria, segundo ele, deve começar a funcionar em agosto, com capacidade média de 5 mil litros mensais (60 mil anuais), atendendo apenas a vizinhança. “A ideia é que a nossa fábrica retome o conceito de séculos atrás, onde cada vila tinha sua padaria, seu açougue próximo dos moradores”, afirma, e brinca: “Mas a repercussão do concurso já assustou uma vizinha nossa, que passou a me chamar de ‘cara da Samuel Adams’. Ela acha que vou atrair multidões para o bairro.”

Cesar tem acompanhado com curiosidade o mercado brasileiro de cervejas. “Meu irmão, que também é cervejeiro caseiro no Brasil, me manda notícias. Dá para perceber que há um crescimento forte por aí.” Ele afirma que, no futuro, sonha em abrir uma microcervejaria no Brasil. “Vou esperar de novo pela oportunidade.”

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