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Bob Fonseca - Cerveja na Mesa

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A árdua tarefa de ser um juiz cervejeiro

Pouco depois das oito da manhã de domingo na capital paulista, ainda sonado, sou surpreendido por um homem que se apresenta como sommelier de cervejas, serve uma garrafa de rolha da marca belga Chimay e se despede. Mal tenho tempo de terminar o primeiro gole e um garçom retira a taça da mesa. Instantes depois, […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h33 - Publicado em 11 mar 2014, 16h50
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Pouco depois das oito da manhã de domingo na capital paulista, ainda sonado, sou surpreendido por um homem que se apresenta como sommelier de cervejas, serve uma garrafa de rolha da marca belga Chimay e se despede. Mal tenho tempo de terminar o primeiro gole e um garçom retira a taça da mesa. Instantes depois, outra pessoa surge, repete o roteiro e serve outra Chimay, que logo será sacada de mim. A cena se repete mais três vezes.

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(Foto: Roberto Fonseca)

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Qualquer semelhança com o filme O Dia da Marmota, estrelado por Bill Murray, não ė coincidência. A cena cervejeira de fato ocorreu domingo (9), no Campeonato Brasileiro de Sommeliers de Cerveja, com quem avaliava os finalistas — eu era um deles. No final do domingo, este cansado julgador que escreve chega a Blumenau, onde, poucas horas depois, era um dos responsáveis por avaliar mais de 400 cervejas em dois dias,  num típico turno de trabalho “9 to 5″. Na primeira jornada, foram 36 cervejas de quatro estilos.

+ Cerveja de trigo: um clássico da Baviera

Se você, nobre leitor, ainda continua com um sorriso no canto dos lábios imaginando a “vida boa” que tem um juiz de cervejas, saiba que essa é a reaçāo de nove entre dez pessoas que ouvem a descriçāo da funçāo — a dėcima certamente será a māe, pai ou marido/esposa do julgador, preocupado com a quantidade de cervejas que será consumida. Contrariando o imaginário do consumidor, porém, posso assegurar que a tarefa não é nada fácil, por um motivo principal: o que significa relaxamento e alegria para muitos é, ao mesmo tempo, rotina e trabalho para poucos.

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Imagine viver em um comercial de cerveja. Sol, praia, mulheres e a bebida gelada. Parece tentador? Agora imagine que, em vez de protagonizar a propaganda, você esteja trabalhando nela, todos os dias. Uma hora o sol vai parecer quente demais, as pessoas, animadas demais, e a cerveja, um trabalho que não acaba, por mais que você goste dele.

+ O mestre-cervejeiro que ‘encolheu’ a produção

Depois de alguns anos avaliando a bebida, notei que fica mais difícil beber despreocupado. A mais singela cervejinha já faz o nariz e a boca tentarem captar aromas, sabores e defeitos. Eu falei em defeitos? Saiba que eles incluem sensações como vômito de bebê, lixo orgânico e chulé, e precisam ser treinados periodicamente. Nem tudo é malte, lúpulo e levedura.

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(Foto: Roberto Fonseca)

Também é preciso conhecer e provar vários estilos, gostando deles ou não, como as Lambics, cervejas ácidas, ou as Imperial IPAs, com doses generosas de amargor. E elas também podem apresentar defeitos. As quantidades de amostras também são consideráveis, e podem passar de 30 por dia, como ocorreu ontem. E não dá apenas para dizer “gostei” ou “detestei”. Mesmo quando a cerveja tem problemas, é preciso tomá-la, apontar o que está errado e, se o conhecimento for grande, como resolver. Para acompanhar a maratona de degustações, nada de olegas petiscos de boteco, apenas pão e água.

A sensação no final de um dia cheio como o de hoje é de querer tomar qualquer coisa que não tenha teor alcoólico. Ou apenas mudar a bebida: para alguns colegas, a melhor receita para descansar os sentidos após uma avaliação extensa é saborear um destilado.

Se ainda assim alguém achar que é uma tarefa fácil, um último aviso. É preciso estudar, e muito, para ter um nível de conhecimento mínimo e ser um avaliador. E isso não inclui apenas as famosas “horas-copo”, mas também muitos livros.

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