Pileques drinques e outras bebedeiras, F. Scott Fitzgerald
Caro amigo chegado a uma boa bebidinha cotidiana, não se preocupe. O efeito do álcool tem lá suas vantagens. A principal delas é tornar a vida um pouco mais palatável. E isso não é um caso isolado. Vários grandes personagens da história recorreram aos milagres operados pela ingestão de vastas quantidades de álcool para se […]
Caro amigo chegado a uma boa bebidinha cotidiana, não se preocupe. O efeito do álcool tem lá suas vantagens. A principal delas é tornar a vida um pouco mais palatável. E isso não é um caso isolado. Vários grandes personagens da história recorreram aos milagres operados pela ingestão de vastas quantidades de álcool para se livrarem de suas sombras. Claro que isso causou consequências em seus fígados, relacionamentos e, no mais das vezes, encurtou a existência terrena de vários deles. Mas a vida é assim, feita para ser gasta da maneira que melhor lhe convier. F. Scott Fitzgerald (1896-1940), um dos mais festejados autores de língua inglesa, que o diga; ou melhor, que nos conte. E é exatamente isso que ele faz em Pileques drinques e outras bebedeiras (Companhia das Letras, 108 págs., R$ 29,00).
Nesse livretinho, vários textos, fragmentos deles, cartas e pensatas — sobre os sabores do álcool e dissabores da vida — desnudam a alma humana, atormentada por sua própria condição. Há momentos divertidos mas também outros bem sombrios, quando o escritor já está carcomido pela depressão e os pilequinhos não aliviam em nada.
Abaixo, algumas doses homeopáticas e profiláticas:
“Coquetel de Peru: Adicione a um peru grande um galão de vermute e um garrafão de Angostura. Agite.“
“O mundo borrado visto de um carrossel entrou nos eixos; o carrossel de repente parou.”
“Baile de debutantes: a primeira vez em que uma mocinha é vista bêbada em público.”
“Quando ele compra suas gravatas, tem de perguntar se o gim irá desbotá-las.”
“Quando ele fica sóbrio durante seis meses não suporta nenhuma das pessoas de quem gostava quando bêbado.”
“Mandar champanhe de segunda para a orquestra — nunca, nunca faça isso de novo.”
“[…]
Desculpe o tom cristão desta carta. Comecei a beber na segunda página e agora estou realmente santificado (como o monge de Dostoiévski que não fede).”
Amém, Fitzgerald, amém!