Morre Ricardo Castilho (1964-2024), um guerreiro da gastronomia
Uma das maiores referências gastronômicas e de vinhos do país, o jornalista morreu nesta terça (18) aos 59 anos
Ricardo Castilho nos deixou na manhã desta terça (18), em consequência de um infarto. Ele tinha 59 anos e uma formidável carreira devotada à gastronomia.
Trabalhamos juntos no começo de carreira. Castilho na Playboy e eu na Vejinha. Na franquia americana, ele foi de repórter a editor e também foi lá que sua paixão pela gastronomia e, em especial pelos vinhos, tomou corpo. Seu passo seguinte foi se tornar diretor de redação da revista Gula.
Quando a participação na Gula chegou ao fim, aflorou a veia de empreendedor. Junto com a Claudia Esquilante, sua mulher, e os amigos Mariella Lazzaretti e Georges Schnyder, foi um dos fundadores da revista Prazeres da Mesa, em 2003, da qual era diretor editorial.
Ao longo de 21 anos, não limitou suas atividades ao impresso. Um ano depois do lançamento da Prazeres da Mesa, liderava junto com os parceiros a criação do evento Mesa ao Vivo, que, em 2007, passou a incluir o Mesa Tendências, fórum internacional de discussões gastronômicas.
Para se ter uma ideia da importância e da dimensão do Mesa Tendências, em 2008 o evento conseguiu atrair os grandes chefs da vanguarda espanhola em seu momento de auge, dentre eles sua maior estrela, ninguém menos que Ferran Adrià.
O palmeirense fascinado por seu time era também um amigo e profissional generoso. Lembro-me da primeira entrevista que publicou comigo, em setembro de 2011. Uma das perguntas era como se forma um crítico. Aparecia em destaque um trecho da minha resposta: ‘O crítico come com uma boca emprestada. Ele fala para um monte de gente’. Estava em evidência no texto a essência do meu trabalho, resultado de edição atenta do Castilho.
Outros dois momentos especiais foram convites, feitos por ele e pelo trio de sócios, para participar do Mesa Tendências. No primeiro deles, em 2013, falei sobre minha paixão por literatura e gastronomia brasileira ao apresentar o colóquio ‘Letras Gulosas’ para uma plateia atenta no Senac Santo Amaro. Voltei no ano passado no Memorial da América Latina, exatamente uma década depois, para tratar do mesmo tema, agora com o título ‘Literatura de Comer – Antologia do Paladar’, resultado da minha tese de doutorado defendida na Universidade Presbiteriana Mackenzie no mesmo ano.
O entusiasmo pelo vinho levou Castilho, um dos maiores especialistas no tema no país, a integrar confrarias dentro e fora do Brasil (Alentejo, Dão e Vinho do Porto, todas em Portugal, e de Champagne, na França). Era um prazer ouvi-lo falar sobre a bebida com tanta propriedade sem pedantismo, em especial, numa viagem que fizemos à Serra Gaúcha.
Castilho foi também o artífice de dois prêmios anuais, um que destaca as melhores cartas de vinho do Brasil e o outro para o Melhores da Gastronomia. A cerimônia de 2024 está marcada para a próxima quarta (26).
Outro traço marcante era sua dedicação à família. Foi um pai amoroso para os filhos Ricardo Júnior, Carolina e João Paulo e um apaixonado pela Claudinha, sua companheira dessa jornada — há uma declaração à sua eterna namorada, publicada no Instagram menos uma semana atrás. Ainda trago fresco na memória quando me contou, todo orgulhoso, em uma feira gastronômica, que seus rebentos iriam dar início à hamburgueria Cow Me Burger.
Com a partida de Castilho, a gastronomia brasileira perde um de seus maiores entusiastas e divulgadores. A perda irreparável de um gigante. Ele já faz falta, muita falta.
O velório acontece até as 12h desta quarta (19) na sala Nova York do Funeral Home (Rua São Carlos do Pinhal, 376, Bela Vista), seguido da cerimônia de despedida no Crematório Vila Alpina (Avenida Francisco Falconi, 437, Vila Alpina).
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