Proprietária de uma casa na Vila São Francisco, no Butantã, a administradora de empresas Giovana Cyrino, de 32 anos, viu a região ser tomada por uma onda de furtos e roubos desde o fim do ano passado. Em janeiro, seu sogro e um vizinho foram assaltados no mesmo lugar no intervalo de uma semana.
“Depois desses episódios, resolvi bater de porta em porta para me apresentar e pedir o número do celular de todo mundo”, conta. Com essas informações, ela criou, há três meses, um grupo no WhatsApp entre os moradores. Nele, os 27 membros postam informações sobre pessoas ou veículos “suspeitos” parados em frente a alguma das residências. “Avisamos na rede; se ninguém conhecer a pessoa, anotamos a placa e fazemos uma denúncia”, relata Giovana.
Outra medida adotada por conta própria foi a instalação de câmeras e iluminação. “Como não podemos fazer isso na via pública, colocamos os equipamentos em nossos quintais, mas virados para a rua”, explica. Casos como o dos habitantes da Vila São Francisco estão cada vez mais comuns.
Esses grupos começaram a surgir cerca de três anos atrás, e houve um aumento expressivo em 2016. Nos últimos seis meses, estima-se que tenham sido criadas em toda a cidade ao menos trinta comunidades do gênero, segundo representantes dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs).
Cansados de conviver com a violência, paulistanos de áreas diversas passaram a se mobilizar via aplicativos. Cada integrante vigia o quarteirão em que mora, troca informações sobre ocorrências no local e, dependendo do caso, aciona a polícia. A rede social tem servido também para cobrar das prefeituras regionais melhorias como poda de árvores e aumento de iluminação pública.
Um dos grupos mais ativos é o da Rua Aureliano Leal, na Água Fria, na Zona Norte, com 36 participantes. Desde o seu lançamento, em setembro, a via não registrou nenhum assalto. Furtos de veículos e roubos no comércio também diminuíram nas imediações. Antes, eram cinquenta casos por mês.
Hoje, são quatro, em média. Empenhados, os integrantes penduraram uma faixa que comunica que a rua é monitorada pela Vizinhança Solidária (um programa da Polícia Militar que visa a auxiliar os moradores a se unir para prevenir crimes) e montaram um sistema de apitos para quem não tem smartphone.
“Se alguém vê uma movimentação em seu quintal, por exemplo, deve apitar para chamar a atenção da casa ao lado”, afirma a professora Jocí Bittencourt, 54 anos, que vive ali há 51.
Os bons resultados têm chamado a atenção dos Consegs, que vêm incentivando a população a usar os aplicativos com esse objetivo. “No centro, nos pontos onde há grupos ativos, percebemos que as pessoas se sentem mais seguras”, diz Evaldo Roberto Coratto, coordenador estadual de Consegs.
A advogada Ana Paula Lourenço, 46, acabou de lançar uma comunidade na Vila Leopoldina, na Zona Oeste, por influência do Conseg da região. “Se a gente tivesse feito isso meio ano atrás, daria para ter evitado o assalto a um vizinho. Havia uma movimentação suspeita na porta da casa dele e poderíamos ter avisado”, lamenta.
O recurso ajuda, mas não faz milagre, evidentemente. Na Vila São Francisco, por exemplo, a maior sensação de segurança não se refletiu ainda na queda dos índices de criminalidade do bairro como um todo.
A ocorrência de furtos e roubos no lugar aumentou 6% em janeiro, em comparação ao mesmo período de 2016, segundo dados do governo estadual. “Essas comunidades ajudam na vigilância e vão auxiliar ainda mais com a expansão da prática por outras áreas”, pondera Coratto.
“As informações do aplicativo só terão eficácia de verdade se forem passadas à polícia para investigação dos casos”, completa Fábio de Toledo, presidente do Conseg do Butantã.