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Vovós modernas

Foi-se o tempo em que as viúvas botavam um vestido escuro e viviam esquecidas do mundo. Suas únicas alegrias eram os netos, a quem se dedicavam como fadas-madrinhas. Mãe podia ficar brava, dar pito. Vovó permitia tudo. Suas qualidades culinárias foram glorificadas em prosa, verso e nos divãs dos terapeutas. Quantos pacientes não gastaram horas […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h44 - Publicado em 18 set 2009, 20h19
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  • Foi-se o tempo em que as viúvas botavam um vestido escuro e viviam esquecidas do mundo. Suas únicas alegrias eram os netos, a quem se dedicavam como fadas-madrinhas. Mãe podia ficar brava, dar pito. Vovó permitia tudo. Suas qualidades culinárias foram glorificadas em prosa, verso e nos divãs dos terapeutas. Quantos pacientes não gastaram horas e horas lembrando-se dos bolos e sequilhos que só elas sabiam fazer? Todos adoravam as vovós de gestos adocicados, sempre prontas para ir à cozinha. Menos as próprias. Tanto que, na primeira chance, mudaram.

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    Outro dia ouvi dois garotos conversando:

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    – Vou para a fazenda do namorado da vovó! – dizia um.

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    – Ele é legal? O da minha é um chato.

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    Pois é. Os tempos são outros. Vovós tingem o cabelo. Fazem plástica. Lipo. Vão à academia. Muitas vezes, namoram contra a vontade dos filhos.

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    – Mamãe, eu não gosto daquele sujeito – brigava um amigo meu outro dia.

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    – Sei cuidar de mim! Já troquei suas fraldas!

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    – Deixa, ela é uma teimosa! Depois não diga que não avisamos! – lamentava-se a nora.

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    O próprio conceito de velhice mudou. Ou as pessoas vivem mais ou se divertem durante mais tempo. Antes, alguém de 50 anos era considerado velho. Hoje, aos 60, dizem que ainda é novo.

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    Conheço um taxista especializado em vovós.

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    – Vou, pego em casa, levo ao médico e para fazer compras. Ajudo a carregar – ele me contou.

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    Qualquer empresário teatral paulista pode confirmar. Produtores adoram as excursões de “velhinhas”. São um público fiel. Vão em vans. Depois saem para comer uma pizza. Adoram comédias. E piadas maliciosas. Já existem academias apostando na terceira idade. Um personal trainer me revelou:

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    – É uma alegria quando fazem movimentos que não conseguiam antes!

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    Muitas são separadas, outras, viúvas. Tornam-se amigas. Fazem programas juntas, sem obrigar a família a acompanhá-las. Vão dançar. Às vezes tomam uma cerveja, por que não? Falam, é claro, de amores.

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    – Viu como ele me olhou? – diz uma.

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    – Eu acho que a reconheceu. Deve ser amigo do seu neto! – observa uma, mais venenosa.

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    – Coisa nenhuma. Rapaz novo adora coroa!

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    Verdade absoluta. Já soube de vários casos. Muitos jovens sentem atração por mulheres mais velhas. Que bom! O sol nasceu para todos. Muitas, porém, preferem se relacionar com amigos e até ex-namorados do passado. Fazem companhia um ao outro. Até surgem casamentos!

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    Há bastante preconceito. Não falta quem gostaria de acorrentar avós ao fogão. Se várias delas abriram a cabeça, eles não. Eu mesmo, confesso, no passado já andei distribuindo alguns exemplares de livros de culinária a senhoras rebeldes. Adiantou? Só se dedicaram à cozinha as que já gostavam quando novas. A solidão nunca despertou nenhuma vocação para as panelas!

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    Acompanhei uma história muito próxima, na minha família. Depois de quarenta anos de casada, veio a viuvez. Passado o luto, um novo amor! Nem por isso deixou de dar carinho aos netos. Apenas acrescentou mais amor a sua vida.

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    Não é regra. Inúmeras mulheres têm um temperamento mais reservado. Preferem continuar com uma vida calma, roupas discretas, dedicação total à família. Ótimo, quando é por vontade própria. Péssimo, se é por pressão dos filhos.

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    Ninguém é obrigado a permanecer em um papel inventado pela sociedade. As mulheres de terceira idade estão dando o grito de libertação. É uma nova minoria ávida por seus direitos. Não será estranho se surgir em breve o Movimento de Emancipação das Vovós. Garanto meu apoio!

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