Vale do Anhangabaú ainda tem pouco movimento e lugares fechados após reabertura
Área está sob administração privada há nove meses
Embora já tenha estabelecido uma programação permanente de atividades esportivas e culturais, aberto dois quiosques e sediado alguns eventos, o Vale do Anhangabaú ainda patina em sua alardeada proposta de se consolidar como espaço de permanência e referência de lazer no Centro, passados nove meses do início de sua concessão — e depois de uma reforma de 105,6 milhões de reais que incluiu a substituição do piso e da iluminação, bancada pela prefeitura.
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O contrato de concessão, no valor de 49 milhões de reais, foi assinado em julho de 2021 com o consórcio Viva o Vale, integrado pela WTorre Entretenimento e a Urbancom, e tem duração de dez anos.
A área total é de 70 000 metros quadrados, que compreende, além do vão de concreto liso do vale, outros locais, como parte da Avenida São João, entre a Ipiranga e a Rua São Bento; escadaria da Rua Doutor Miguel Couto; Praça do Correio; baixo do Viaduto do Chá; Praça Ramos de Azevedo; onze quiosques; e 8 730 metros quadrados das galerias Formosa e Prestes Maia.
“Tentar inserir a lógica de parque num lugar
que não é parque não funciona.”
Kazuo Nakano, arquiteto, urbanista e professor da Unifesp
O consórcio só começou a operar de fato em dezembro do ano passado. A maior parte das obrigações prevê apenas conservação, manutenção e segurança do local, entre outros itens de zeladoria. Alguns locais ainda demandam obras para que possam ser explorados comercialmente, como é o caso da Galeria Prestes Maia, com investimento previsto de 3 milhões de reais.
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Procurado por intermédio da assessoria de imprensa para comentar o assunto, o consórcio não designou nenhum representante para falar com a reportagem. Em nota, disse apenas que as tratativas comerciais para a ocupação das galerias estão em curso.
Outro ponto que chama atenção é a demora para que todos os quiosques funcionem. Os dois primeiros foram ocupados no início de agosto pela Sapore, multinacional brasileira de restaurante corporativo. Um deles oferece mesas e cadeiras a céu aberto, sem proteção contra sol ou chuva.
Questionado, o consórcio informou que o usuário pode escolher onde fazer a sua refeição e que as áreas internas dos quiosques também podem ser usadas para consumo no local — no entanto, o espaço interno é pequeno e há dificuldade para que seja usado simultaneamente por clientes, por exemplo, se houver necessidade de abrir a geladeira de bebidas.
Em todas as seis visitas realizadas no local pela reportagem no mês de agosto, o banheiro que fica ao lado da pista de skate, nova e lugar mais movimentado do Vale do Anhangabaú, estava interditado. “Eu nunca vi funcionando”, diz Davi Amendoeira, 19, que afirma frequentar o lugar desde a reabertura.
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Para poder se aliviar, os skatistas acabam comprando um litrão de cerveja num bar da própria praça para conseguir usar o banheiro de graça. Outro problema são os casos de vandalismo: mais de sessenta torneiras e tampas de vaso sanitário já foram furtadas dos banheiros.
A Viva o Vale afirma empreender um trabalho regular de zeladoria e que equipes implantam sistema de monitoramento com câmeras, que faz o reconhecimento facial e a contagem dos frequentadores.
A empresa afirma ainda ter realizado 1 764 atividades gratuitas, entre aulas diversas e apresentações culturais, que juntas reuniram 30 500 pessoas (média de dezessete em cada atividade). O objetivo, segundo o consórcio, é tornar o local um espaço de permanência, e não apenas de passagem.
Para o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esse tipo de atividade não faz parte do processo de utilização da parte do Centro e particularmente do Anhangabaú, que serve como um conector.
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“O Anhangabaú não é como o Ibirapuera, ao qual você planeja a ida. Tentar inserir a lógica de parque num lugar que não é parque não funciona”, opina.
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Publicado em VEJA São Paulo de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805