Empresa faz sucesso com venda de kits para o cultivo caseiro de plantas
A Cityfarm é um empreendimento que desenha soluções de agricultura urbana
“Na escola, todo mundo plantou feijão no algodão e, agora, pode resgatar a experiência e comer o que cultiva”, diz Rafael Pastor, idealizador da Cityfarm, empresa que desenha soluções de agricultura urbana. Há dois anos, depois de se demitir, ele deu de cara com uma reportagem sobre as fazendas urbanas e convocou o ex-colega de trabalho, Gustavo Guerra, para a empreitada. “Eram dois administradores que improvisaram uma estrutura com canos do fogão de casa. Conseguimos um pé de alface”, diverte-se.
A primeira aposta foi com os microgreens, verduras e temperos colhidos ainda jovens, com alto valor nutricional e queridinhos dos chefs em restaurantes, seus principais clientes. O cultivo é feito em um espaço de 50 metros quadrados na Saúde e as vendas são pelo e-commerce. Para dar forma à iniciativa, eles angariaram a ajuda dos engenheiros agrônomos Daniel Eidi Hamahiga, expert em plantação hidropônica, e Marcelo Noronha, que há quinze anos trabalha com hortas orgânicas e educação ambiental, um dos focos dos rapazes. “Antes de abrir, fizemos uma série de cursos para aprender do negócio”, conta Guerra. Aos novos interessados, eles compilaram os conhecimentos e oferecem aulas sobre o assunto. Já foram mais de quarenta formações desde o ano passado.
Com a pandemia e a suspensão das atividades dos restaurantes e bufês, viram a produção de microgreens diminuir. Atualmente, trabalham com uma estante de dez andares, capaz de cultivar 1200 potinhos por mês. “Comercializamos em escalas menores para chefs e consumidores finais, mas outras frentes se abriram”, diz Pastor. Os kits para o cultivo das plantinhas em casa se tornaram um sucesso em vendas no site, motivado pelo isolamento e pela falta de contato com o verde. “Algumas das peças se esgotaram”, diz.
No momento, estão disponíveis dois tamanhos de jogos, a partir de 98 reais, que incluem estufa, utensílios, terra e sementes, que podem ser de brócolis, cenoura, couve, mostarda, rabanete, repolho ou rúcula. “Na maioria das vezes, as pessoas erram por aguar demais ou de menos. Facilitamos 90% do processo. Não por inteiro, porque o olhar e o cuidado humano são importantes para a planta”, diz Hamahiga.
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Na lista de atividades ainda estão os projetos das fazendas para prédios e condomínios, com custos a partir de 20 000 reais. “Elas dão função a espaços subutilizados, economizam 95% de água do plantio, encurtam a logística de transporte e, como se come direto do ‘pé’, os produtos são frescos, com mais nutrientes e sem agrotóxico”, explica Guerra. “É uma tendência mundial cultivar essas folhosas de ciclo curto, de cerca de sessenta dias, dentro da cidade”, completa.
A fazenda-modelo deles foi inaugurada no último dia 16, em Paraisópolis, dentro do Pavilhão Social G10. Em um espaço de 20 metros quadrados, são 960 pés de verduras e temperos, como alface, couve, espinafre e coentro. Os frutos da alta produtividade — cinco vezes maior do que o cultivo tradicional na terra — vão abastecer a cozinha do local para o projeto AgroFavela-Refazenda, organizado pelo G10 das Favelas, com a Stop Hunger e a Sodexo, que conta também com uma horta horizontal.
“Agora eles estão desenvolvendo um protótipo menor para colocarmos nas lajes da comunidade”, diz Davi Barreto, superintendente do Instituto Stop Hunger. “A ideia é que se profissionalizem 1 000 pessoas e com essas estruturas consigam o alimento para as famílias e renda com a venda do excedente”, afirma Gilson Rodrigues, líder comunitário da região.
O quarteto garante que em breve esse produto estará disponível para venda. “O objetivo é que as pessoas o coloquem em suas varandas e conheçam de onde vem seus alimentos”, afirma Hamahiga.
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Publicado em VEJA São Paulo de 04 de novembro de 2020, edição nº 2711