Startup inova mercado da perfumaria com ‘degustação’ de fragrâncias
O produto da Amyi é uma caixa com nove amostras de 7 mililitros, fitas olfativas e um folheto com QR code que transfere o cliente para uma plataforma
Para aproximar consumidor e perfumista, a administradora Luciana Guidi e a publicitária Larissa Mota, ambas de 40 anos, criaram a marca de perfumes Amyi, que significa “juntos” ou “entrelaçados”, em tupi. As empreendedoras já se avistavam na universidade, mas só foram criar laços quando eram funcionárias da mesma empresa de produtos de beleza.
“Brinco que nasci em uma caixinha de cosméticos”, conta Larissa. Seus pais trabalhavam na mesma área e sua passagem pela companhia suíça de aromas e fragrâncias Givaudan, na unidade em Nova York, alterou seu olhar para o consumo de perfumes quando voltou ao Brasil. “Nosso mercado não evoluiu na mesma velocidade que o do resto do mundo, oferecendo só as mesmas opções comerciais que agradam à maioria das pessoas.”
Percebendo a oportunidade, as duas mulheres conversaram com clientes em potencial e descobriram que o modelo de compra das perfumarias convencionais também não os satisfazia. “Descreveram como uma experiência cansativa. Depois do quarto perfume, já não diferenciavam os cheiros.” As empreendedoras afirmam que 80% dos entrevistados já compraram perfumes que tinham gostado na loja, mas que se arrependeram depois.
Esses foram os motivos para a criação do carro-chefe da marca, a Experiência Amyi. O produto é uma caixa com nove amostras de fragrâncias de 7 mililitros, fitas olfativas e um folheto com QR code que transfere o cliente para uma plataforma. Baseada em programação neurolinguística, a ferramenta é um roteiro sensorial que convida o consumidor a dar significado aos cheiros, atribuindo-lhes cor, textura, memórias e sentimentos, e a avaliá-los com uma nota, criando um ranking próprio.
O recomendado é experimentar até três perfumes por dia com as fitinhas do kit para não saturar o olfato e, se agradar, testar na pele depois. Larissa explica que o perfume deve ser sentido no momento da aplicação e após quinze minutos, pois as notas aromáticas se intensificam ou suavizam ao longo do tempo. O interesse de Luciana em cursos livres sobre comportamento humano foi um auxílio para criar esse método que elas categorizam como autoconhecimento e autocuidado com perfumes.
No fim da experiência, há vídeos curtos com explicações dos próprios perfumistas sobre composição e inspirações das fragrâncias. “Eles tiveram total liberdade na criação. A única condição era que nos trouxessem algo que tivessem orgulho de assinar”, diz Larissa.
A compra é on-line e em duas etapas. Decidido o aroma que mais agrada, o cliente faz outro pedido e recebe um frasco maior da fragrância, de 100 mililitros. A experiência completa custa 360 reais mais o preço do frete e é entregue por todo o país.
Definida como alta perfumaria, as empresárias afirmam que investem em óleos essenciais com qualidade até seis vezes maior do que marcas convencionais para a fabricação dos perfumes. De acordo com Larissa, apesar do custo dos ingredientes ser mais elevado, o preço do produto final é acessível porque a venda é feita diretamente ao consumidor.
A startup foi criada em 2019, antes mesmo dos serviços se adaptarem ao delivery por causa da quarentena, com investimento inicial de 390.000 reais.
A pandemia chegou a abalar as vendas, mas em setembro de 2020 a empresa ganhou visibilidade ao ser a primeira marca brasileira finalista do prêmio americano The Art and Olfaction Awards, com a fragrância Amyi VIII, criada pelo perfumista Samuel Moraes. O estoque previsto para seis meses foi vendido em quinze dias. “Isso mostra como os profissionais brasileiros estão prontos para inovar o mercado da perfumaria”, afirma Larissa.
Em outubro do ano passado, a marca recebeu um aporte de 1 milhão de reais de investidores anjos. O maior objetivo da empresa é ambicioso: as criadoras acreditam que a Amyi tem potencial para ser líder no mercado da perfumaria de nicho no país e bater de frente com perfumes importados famosos. “Nos primeiros meses vendíamos cerca de 10.000 reais. Hoje, no pior mês, vendemos 52.000.”
Neste ano será lançada a segunda experiência, mais enxuta, com seis amostras, e novas funções na plataforma.
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726