Trilha pela mata para acessar mirante é uma das novidades do Cantareira
Atração integra investimentos em serviços e eventos da nova gestora do parque para retomar público após elevação de 163% no valor da entrada
A paixão por fotografar a natureza levou o auxiliar administrativo catarinense Elizeu Czekalski, de 35 anos, a visitar o mirante da Pedra Grande, um dos pontos turísticos mais requisitados do Parque Estadual da Cantareira, na Zona Norte, e que fica a 1 010 metros acima do nível do mar. “É deslumbrante essa mistura de Mata Atlântica e a vista da selva de concreto”, afirma. Ele elogiou muito o parque, porém criticou o valor de 50 reais da entrada cobrado pela Urbia, responsável pela gestão do complexo desde abril de 2022, quando o Cantareira passou à gestão da iniciativa privada.
Quando era administrado pelo governo estadual, a entrada custava 19 reais. Enquanto o valor do ingresso subiu de forma estratosférica — 163%, elevação 32 vezes superior à inflação dos últimos doze meses —, a presença do público total caiu 43% no comparativo com 2019, último ano antes da pandemia. Oficialmente a concessionária não admite que o aumento no valor da entrada seja o motivo da queda de público e diz que a política de cobrança de preços está respaldada pelo contrato de concessão. No entanto, muitas pessoas que visitavam o parque constantemente para treinos e lazer dizem que estão preferindo outros espaços. “Para um treinamento seria ótimo e ajudaria muito. Porém, por 50 reais, é inviável”, afirma o atleta e personal trainer Sandro Marcondes de Oliveira, de 57 anos.
Para superar a barreira do ingresso e trazer de volta os visitantes para o parque, a Urbia tem criado uma série de eventos e novas atividades, a mais recente delas a abertura de uma nova trilha de três quilômetros, feita por terra, para quem quiser ter um contato mais próximo e prolongado com a natureza. Batizada de Trilha da Pedra Grande, se tornou o mais longo trajeto por terra dentro do complexo de trilhas, já que o famoso caminho que liga a entrada do parque até o mirante é, na verdade, uma estrada de asfalto, segundo explica Gustavo Ferraz, gerente de operações da Urbia. “A nova trilha é voltada a quem quer uma imersão na mata mesmo”, diz. Ele afirma que nenhuma árvore foi derrubada para a criação do traçado e que apenas foi feita a retirada de arbustos e galhos já caídos no chão para abrir caminho. Segundo Ferraz, foram necessárias apenas adaptações como instalação de pequenas toras que servem como degraus de escada em alguns trechos para facilitar a subida de pontos escorregadios, e também intervenções como implantação de guarda-corpos e espécie de pontes de madeira para passar por locais que geralmente alagam com a água da chuva. Apesar de ser classificada de nível médio e alto, Ferraz afirma que qualquer pessoa pode se aventurar, já que existem pontos de descanso com bancos no meio do caminho. O passeio não é indicado para dias chuvosos, já que pode se tornar escorregadio e há risco de queda.
Quem gostou da ideia do novo caminho foi o aposentado Luis Roberto da Silva, 63 anos, que fotografa a natureza há vinte anos. “Vou assim que me programar financeiramente, já que a maior parte das trinta visitas que fiz não foi paga e agora eu pago meia.” A Urbia afirma que a política de cobrança de ingresso atual e os reajustes estão previstos no contrato de concessão. A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, órgão que administrava o parque antes de ser passado à iniciativa privada, diz que o “concessionário tem liberdade para estabelecer o valor tarifário em razão da necessidade de recursos frente aos investimentos e custos operacionais assumidos”. O contrato de trinta anos prevê que a Urbia invista 45,5 milhões de reais, sendo que 31 milhões de reais devem ser aplicados até 2028. A empresa diz já ter investido 15 milhões de reais numa série de mudanças. Além de “rebatizar” o parque para Floresta Cantareira, unificou a entrada, que agora é feita pelo Horto Florestal, e criou o serviço de transporte interno por van, que custa 20 reais por pessoa. Também abriu um café localizado ao lado do mirante, local que já recebeu eventos como degustação de vinhos e oficina de pintura. Os passeios noturnos também têm feito sucesso por lá. Mesmo custando 120 reais por pessoa, as entradas para as edições se esgotam rápido. No Horto Florestal, as novidades incluem a volta dos pedalinhos no lago, além de café colonial oferecido nos fins de semana e feriados e acampamento dentro do parque, operados por parceiros.
Publicado em VEJA São Paulo de 3 de maio de 2023, edição nº 2839