Furtos e roubos de motos de luxo, que podem custar mais de 600 mil, crescem 57%
Situação levou Federação dos Motoclubes a reivindicar criação de delegacia especializada e uma série de medidas por parte da segurança pública
Enquanto pilotava sua Royal Star de 1 300 cilindradas na Avenida Jacu-Pêssego, na Zona Leste, o motociclista Davino Ricorte se deparou com quatro homens armados no meio da pista. Ele estava na companhia de um amigo, que conduzia uma Boulevard de 1 500 cilindradas, que também ficou na mira dos criminosos. Apostando na potência do motor, logo se abaixaram e aceleraram. Apesar de não ser uma medida recomendada pelas autoridades públicas, ambos saíram ilesos e por pouco não entraram para as estatísticas que indicam um crescimento de 57% de roubos de motos de luxo na capital de janeiro a maio deste ano em relação a igual período de 2022.
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Com preços tão elevados quanto o ronco dos escapamentos (de 50 000 a 600 000 reais ou mais), a alta brusca de crimes contra donos desses tipos de motos levou a Federação dos Motoclubes do Estado de São Paulo a cobrar uma série de medidas das autoridades em uma reunião realizada no início de julho com o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, André do Prado (PL). “Esse aumento é absolutamente fora da normalidade”, afirma Tulio Augusto Martins Siqueira, presidente da federação.
Dados dos boletins de ocorrência tabulados pela empresa de monitoramento Ituran a pedido da reportagem mostram que a quantidade de roubos e furtos de motos na capital estourou. Nos primeiros cinco meses deste ano (dados mais recentes disponíveis), foram 7 863 casos, número 35,7% superior ao mesmo período de 2022, com 5 798 registros. Quando o recorte é feito por motos acima de 500 cilindradas, as mais potentes, chega-se ao avanço de 57% (de 466 para 731). Só no mês de maio deste ano foram 204, mais que o dobro das 99 de maio de 2022. “A segurança pública enfrenta desafios significativos e tem feito esforços para lidar com esses casos, mas ainda há muitas questões a serem resolvidas, pois se trata de um assunto complexo”, diz Fernando Correia, coordenador de operação da Ituran Brasil. Entre as reivindicações dos motociclistas e de empresas do setor está a criação de uma delegacia especializada para registrar as ocorrências com as motocicletas, além de mais blitze em festas da periferia, onde muitas vezes elas são usadas como troféus.
A Secretaria de Segurança Pública informou não fazer a divisão dos dados das categorias de veículos nas estatísticas criminais. A pasta confirmou a reunião, mas não detalhou se irá atender às reivindicações dos motociclistas. Além disso, diz manter operações para combater e desarticular quadrilhas especializadas e recuperou 19 264 veículos, sem informar quantos eram motos.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852
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