Piloto Daniel Serra é um dos destaques nas corridas de resistência
Paulistano é polivalente e disputa quatro campeonatos, entre eles o Mundial de Endurance da FIA, que volta a Interlagos em 2024
Nos poucos dias do ano em que não está pisando fundo no acelerador de um carro de corrida, o piloto paulistano Daniel Serra, de 39 anos, prefere se transformar no motorista particular dos filhos para levá-los e buscá-los na escola, além de passar o maior tempo possível com a família. Não que desacelerar seja algo que ele goste. “Dirigir carro (de passeio) é chato. Eu gosto de competição, velocidade”, afirma. E velocidade é o que está em seu DNA. Filho do tricampeão de Stock Car Chico Serra, Daniel, ou Serrinha, como é mais conhecido no meio automobilístico, além de também ser tricampeão de Stock Car tal como o pai, já venceu duas vezes as 24 Horas de Le Mans, na França. Essa é a etapa mais im- portante da WEC (World Endurance Championship), a categoria de provas de resistência da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), que volta a ser realizada na cidade São Paulo em 2024, só que no formato de seis horas. “É muito importante uma categoria do tamanho da WEC voltar para o Brasil. Não é tão conhecida como a Fórmula 1, porém, reúne carros de muitas qualidades”, diz o piloto.
O campeonato é formado por etapas que duram de seis a 24 horas e com times de três pilotos. Ganha o que conseguir realizar mais voltas no tempo determinado. Existe uma grande expectativa para a retomada da categoria em Interlagos, autódromo que já recebeu a WEC de 2012 a 2014. Isso porque a partir do ano que vem a cidade de São Paulo será a única a receber os três principais campeonatos da FIA, já que os outros dois já são realizadas por aqui: Fórmula 1 e a Fórmula E, de carros elétricos. A 6 Horas de São Paulo, em 14 de julho de 2024, será transmitida para 150 países.
Serrinha não é o único brasileiro em equipes da WEC, que conta com nomes como Luis Felipe Derani, Felipe Nasr, André Negrão e Pietro Fittipaldi. Apesar disso, ele é um dos mais polivalentes. Como piloto da Ferrari, além da WEC, Serrinha disputa outros dois campeonatos internacionais, o IMSA (International Motor Sports Association), que reúne provas de resistência nos EUA, e o GT World Challenge, na Europa. Somado à Stock Car, em que ele pilota pela Eurofarma-RC, disputada no Brasil, são quatro campeonatos distintos pilotando três carros diferentes. A peculiaridade o leva a situações inusitadas, como participar de uma prova de doze horas nos EUA num sábado e, no domingo, de outra, de Stock Car, no Brasil. Isso ocorreu no fim de semana dos dias 19 e 20 de março de 2022. Para vencer a distância de 6 000 quilômetros da cidade americana de Sebring, ele teve de tomar banho no motorhome da equipe no próprio autódromo, correr para o aeroporto, passar a noite viajando para, no domingo cedo, estar em Goiânia. “Foi uma experiência muito legal. Nunca imaginei correr um dia nos EUA e, no outro, no Brasil”, afirma.
Neste ano o calendário continua apertado e ele ficará de fora da etapa de Stock Car em Interlagos, que ocorre no dia 9 de julho, mesma data de uma prova da WEC de Monza, na Itália, de interesse da escuderia que defende. Esses mesmos interesses o impedem de saber se ele estará no grid de largada para as 6 Horas de São Paulo, em 2024, já que quem decide qual campeonato ele participará é a montadora italiana. “Seria muito legal poder correr aqui em casa”, diz. Serrinha é uma espécie de ultramaratonista das pistas. Mesmo no sistema de revezamento, em que os pilotos se alternam nas 24 horas de prova, ele chega a dirigir nove horas nas mais longas. A etapa de Le Mans foi a segunda da temporada. A primeira foi Daytona, pela IMSA, em janeiro deste ano, e a terceira será a de Spa Francorchamps, na Bélgica, no início de julho pela GT World Challenge. Assim como muitos de sua geração, ele iniciou no esporte com a ajuda do pai, o primeiro a lhe dar um kart, aos 11 anos. “Ele segurava, achava que eu era muito novo para começar e não queria que eu corres- se, só treinasse”, diz. A parceria foi coroada em 2015, quando Chico, já aposentado, voltou às pistas após um pedido do filho para correr uma prova de duplas na Stock Car, algo inédito até então. “Senna era uma motivação para todo mundo, mas eu tinha um ídolo dentro de casa.”
Publicado em VEJA São Paulo de 28 de junho de 2023, edição nº 2847