Ligação do Villa-Lobos até a ciclovia do Rio Pinheiros abre em agosto
Ciclopassarela é aguardada há 12 anos por ciclistas e também de frequentadores do parque
Nos dias em que precisa fazer os treinos de bicicleta, o triatleta amador Rafael Tavares, 43 anos, pedala cerca de 4 quilômetros entre a sua casa, na Vila Leopoldina, até a ponte da Cidade Universitária para conseguir acessar a ciclovia do Rio Pinheiros. Em agosto próximo esse caminho será encurtado, já que será inaugurada uma ciclopassarela que ligará o Parque Villa-Lobos até o final da ciclovia. “Sem dúvida será melhor e mais seguro”, afirma Tavares.
A estrutura é uma antiga reivindicação de cicloativistas e também frequentadores do parque desde 2011, quando a extensão da margem leste da ciclovia do Rio Pinheiros chegou até o atual ponto, embaixo da ponte do Jaguaré. Atualmente, quem vai até ali só tem a opção de dar meia volta e continuar. A única forma de acessar o Parque Villa-Lobos é sair pela ponte da Cidade Universitária, ir até a Praça Panamericana e continuar pela Avenida Professor Fonseca Rodrigues, num trajeto adicional de cerca de 6 quilômetros. Com a ciclopassarela, quem está no final da ciclovia do Rio Pinheiros e quiser acessar o Villa-Lobos deverá apenas subir as rampas, atravessar e sair pelo Parque Cândido Portinari, perto da roda-gigante instalada ali, a Roda Rico, num caminho de pouco mais de 200 metros. Feita de metal, ela é dotada de um grande vão de 70 metros de comprimento que liga o parque à ciclovia. Os ciclistas passarão a 6 metros de altura em relação ao nível da pista da Marginal Pinheiros e dos trilhos da Linha 9-Esmeralda. Outros 130 metros são de duas rampas paralelas à ponte do Jaguaré.
Quem está bancando a obra é a ViaMobilidade, concessionária que, além da Linha 9, também administra a Linha 8-Diamante desde janeiro de 2022. A estrutura integra o pacote de 3,8 bilhões de reais que estão sendo investidos nos três primeiros anos de concessão, a maior parte do montante destinada a tentar melhorar a problemática situação das linhas, que registram falhas constantes. Parte da estrutura que está sendo usada pertencia à CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos), que gerenciava a Linha 9-Esmeralda. Ao assinar o contrato de concessão, a ViaMobilidade herdou esses materiais e fez análises para saber se eles poderiam ser reaproveitados. Originalmente a ciclopassarela deveria ser entregue em janeiro deste ano, porém, atrasou devido a testes e ensaios nas soldas das estruturas, segundo a engenheira Adriana Martins, diretora de Engenharia da CCR Mobilidade. Além disso, o material disponível não era suficiente para cobrir todo o trajeto e novas peças tiveram de ser produzidas.
Os acessos terão controle compartilhado. Pela ciclovia, a responsabilidade será da Farah Service; pelo lado do Villa-Lobos, quem cuidará será a Reserva Parques, concessionária do parque. Já a manutenção da infraestrutura caberá à ViaMobilidade. Embora a ciclovia do Rio Pinheiros funcione até meianoite, o acesso funcionará das 5h30 às 19h, horário em que o VillaLobos fecha as portas para visitação. Para Michel Farah, da Farah Service, a tendência é que a quantidade de frequentadores na ciclovia aumente, inclusive aqueles que trabalham em empresas de ciclologística, que representam 70% dos cerca de 210 000 ciclistas que rodam por lá ao mês. “Esse acesso é estratégico, já que o Parque Villa-Lobos conta com um amplo estacionamento e dará a oportunidade para que muitas famílias venham conhecer a ciclovia e também o Parque Bruno Covas”, afirma Farah.
A ciclovia do Rio Pinheiros conta somente com sete acessos no total. São dois no trecho entre as pontes do Jaguaré e Estaiada: a entrada pela ponte Cidade Universitária e um outro, uma plataforma que começa no Parque do Povo. Na porção da ciclovia que fica entre a estação Granja Julieta e a Avenida Miguel Yunes, são outros cinco acessos. Em 2012 o governo estadual anunciou o projeto de uma ciclopassarela que conectaria a USP até o Parque Villa-Lobos passando pela ciclovia do Rio Pinheiros. A estrutura de 500 metros de extensão passaria sobre o Rio Pinheiros e tinha previsão de receber até 30 000 pessoas por dia. O custo estimado à época era de 80 milhões de reais, mas a proposta não vingou. “Eles (acessos) deveriam existir em todas as pontes que a cruzam (ciclovia), estabelecendo uma real conexão com o sistema viário da cidade”, afirma o cicloativista Willian Cruz, 49, do Vá de Bike. Apesar disso, ele diz enxergar com otimismo o novo acesso. “O parque (Villa-Lobos) tem muita visitação, com muitas pessoas pedalando, incluindo famílias com crianças. Será ótimo levar essas crianças para conhecerem o Rio Pinheiros de perto, criando uma conexão afetiva com o rio e conscientizando sobre a importância da sua despoluição”, diz Cruz.
Publicado em VEJA São Paulo de 5 de julho de 2023, edição nº 2848