Médico de hospital da USP desabafa por ficar sozinho no plantão
Centro médico restringiu atendimentos de emergência e só atende casos graves
Nos sete anos em que atua como clínico-geral no Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo), Gerson Salvador nunca esteve tão solitário quanto no último sábado (16). Nesse dia, pela primeira vez, não havia nenhum colega para dividir a tarefa de atender os pacientes que procuraram atendimento no espaço, referência na Zona Oeste da cidade.
Em uma postagem no Facebook, Salvador, de cara fechada, lançou mão de ironia para ilustrar a situação. “Essa é a fotografia de toda a equipe de clínica médica de plantão hoje no HU da USP. Chegou o dia: sozinho no pronto-socorro”.
Em crise, a USP vem apertando os cintos há pelo menos três anos para conter a sangria financeira, o que ocasiona cortes em vários setores, como no HU, que abriga, além dos pacientes, os alunos da Faculdade de Medicina. “Até 2014 éramos três plantonistas, este ano o quadro reduziu para dois, até chegar na situação de haver apenas um médico responsável pelo PS. Ficou insustentável”, afirma Salvador.
A consequência da falta de médicos no local provocou em novembro o fechamento do PS infantil. Apenas os casos mais graves são atendidos. Este mês foi a vez do atendimento adulto, como mostrou VEJA SÃO PAULO no início de dezembro. “São 500 000 pessoas que perderam o atendimento de antes e mais de 1 000 alunos que não passam pelos ensinamentos práticos que só um hospital de referência como o HU proporciona”, conclui Gerson Salvador.
Nos últimos anos, a USP tentou transferir a administração do Hospital Universitário para o estado e para o município, sem sucesso. Procurado, o reitor Marco Antonio Zago não respondeu até a conclusão desta reportagem.