Veteranas das sex shops paulistanas revelam as novidades e saias justas no mercado do prazer
Proprietárias das lojas mais antigas de São Paulo relembram os sucessos e surpresas desse lucrativo (e curioso) setor
Assim como entre quatro paredes, no universo das sex shops são várias as preliminares para dar prazer — nesse caso, aos clientes. “Eles estão cada vez mais exigentes e preocupados com produtos que também beneficiem a saúde”, conta Valéria Albuquerque, dona da butique Lovetoys, no topo de uma esquina da Rua Augusta. Há mais de vinte anos nesse setor, a empresária é uma das mulheres veteranas que hoje comandam as lojas de brinquedos eróticos mais antigas da capital.
“Quando comecei, vendia escondida no banheiro, no horário de almoço… Até o dia em que a porta emperrou e a cliente surtou”, relembra aos risos Natali Gutierrez, sócia da loja virtual Dona Coelha. Junto com o marido, ela começou a escrever sobre os produtos em um blog e a vendê-los para conhecidos. “Uma vez fui visitar umas amigas e tive de levar alguns itens na sacola. Ao passar pela catraca, o ônibus arrancou e os vibradores saíram rolando pelo chão!” Suas visitas feitas às sex shops da época, nos anos 2000, foram igualmente desastrosas. “Era constrangedor para mim, me dava a sensação de estar fazendo algo errado e as explicações sempre priorizavam o prazer do homem”, diz. “Faltavam perguntas essenciais: ‘O que vocês buscam e como posso ajudá-los?’.”
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Com cuidados no visual e no atendimento, as donas de sex shops conseguiram chamar a atenção do público feminino, que hoje é maioria nesses endereços. “Quando comprei minha loja, há 28 anos, ela estava abandonada e tinha muita revista pornográfica… Vibrador era sempre em formato de pênis”, descreve Maisa Pacheco, que dirige a loja homônima na Consolação. A decoração “típica” da época incluía paredes pintadas de preto, iluminação fraca e nenhuma vitrine. “Decidi deixar o pênis menos em evidência, destaquei as lingeries e passei a organizar reuniões para trazer a mulherada pra cá.”
O modelo de cidades como Berlim e Miami também serviu de inspiração para algumas dessas proprietárias. “Em Dubai, esse comércio é proibido, mas o shopping tem uma bem mascarada, que me fez pensar mais na importância da vitrine. Hoje mudo a minha todo mês e faço montagens com temas como circo e cabaré.”
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“Nasceu uma grande movimentação das sex shops para acolher mais a mulher”, reforça Chris Marcello, educadora sexual e criadora da marca Sophie Sensual Feelings, especializada em cosméticos sensoriais e perfumes. Após trabalhar com cosméticos por mais de trinta anos, ela migrou para o mercado erótico com a proposta de promover o bem-estar e o autocuidado, palavras-chave favoritas desse segmento hoje. Ao discutir e vender sexualidade a partir desse ângulo, os tabus ficaram evidentes. “A hora de falar da prática anal é quando a sala fica muda”, brinca Chris. “Todo mundo tem fetiche, mas alguns são mais marginalizados”, complementa a influenciadora e educadora Mistress Mahara, que fala sobre a prática de BDSM (ou sadomasoquismo) nas redes sociais.
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Com ou sem preconceitos, a diversidade e evolução dos sex toys sempre existiram, garantem elas, e o futuro das sex shops é cada vez mais tecnológico. “Antigamente tínhamos as próteses de borracha em embalagens feias, hoje temos o vibrador que funciona a distância: se ela estiver na Bélgica e ele em São Paulo, dá para controlar as vibrações”, descreve Camila Gentile, sócia da Exclusiva Sex, que já tem 25 anos e 23 unidades em São Paulo, além de uma nova loja-conceito prestes a inaugurar no Anália Franco.
Entre as novidades mais vendidas estão aparelhos que se conectam a aplicativos, opções comestíveis com sabores inusitados e bonecas realistas — a mais moderna delas pode custar entre 14 000 e 19 000 reais. “Quando ela chegou, ficamos boquiabertos e a empresa inteira parou. É um ser humano perfeito”, admira-se Camila. Como as histórias inusitadas nunca faltam na rotina dessas vendedoras, não seria diferente com esse lançamento. “Teve uma venda que foi dividida entre cinco amigos e outra em que o cliente quis levar a boneca pronta, no banco da frente do carro, com o cinto de segurança afivelado”, revela. “Mas a mais engraçada aconteceu três anos atrás. Ele veio conhecer a boneca pessoalmente, nos pagou um sinal, mas disse que precisava resolver uma burocracia antes de levá-la: o contrato da casa que alugou para a boneca.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751