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Separação

Ricos são pessoas diferentes. No bom sentido. Eles não fazem coisas que consideram de outro nível. Fumar, por exemplo. Estão parando, acham que é coisa de pobre ou de moças nos bares tentando atitudes. Você não vê ricos urbanos se matando em brigas de vizinhos. Eles nem têm vizinhos, quer dizer, não os conhecem, não […]

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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    Ricos são pessoas diferentes. No bom sentido. Eles não fazem coisas que consideram de outro nível. Fumar, por exemplo. Estão parando, acham que é coisa de pobre ou de moças nos bares tentando atitudes. Você não vê ricos urbanos se matando em brigas de vizinhos. Eles nem têm vizinhos, quer dizer, não os conhecem, não falam com eles – como é que vão brigar? Não se vê rico batendo na mulher, ela registrando queixa na delegacia com a cara toda amassada. Ele não resolve suas questões no braço ou no tiro: chama um advogado. Não se vêem ricos nos horários de pico. Em filas. Em padarias. Em oficinas mecânicas. São ricos até mesmo quando ficam sem dinheiro. Mais tem o rico quando fica pobre do que o pobre quando fica rico, diz o ditado português. É como aquele ex-gordo da crônica de Fernando Sabino, um gordo que havia emagrecido, mas continuava a dar risadas de gordo, sacudindo uma barriga ausente. Divór-cios são divisões de bens, daí que muitos endinheirados preferem a-co-modações. Quando sentem que a separação é inevitável, bens móveis preciosos começam a sumir misteriosamente das residências.

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    Casos que se ouve dizer: uma baixela de prata filetada de ouro sumiu de repente de uma casa; um alfinete de gravata de ouro com um brilhante solitário evaporou-se; dois quadros de Frans Post foram daqui para ali e dali para não se sabe onde; um raro par de luminárias de René Lalique desapareceu…

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    Um casal paulistano muito rico viveu durante o período de separação amigável e inevitável um jogo de esperto contra esperto. As peripécias mais divertidas giraram em torno de um quadro do pintor espanhol Ignacio Zuloaga y Zabaleta representando um baile cigano em Sevilha. Era a jóia da casa, que haviam comprado por um preço absurdo de um antigo marchand em Buenos Aires, muitos anos atrás, na época em que a lua deles tinha mel.

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    Sempre, desde o noivado, agiam como meninos brincando de um passar a perna no outro, ganhar do outro alguma disputa. Movimentavam a vida de casados com aqueles jogos. Depois de cada derrota ele ria com ela, cumprimentando:

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    – Gênio. Você é gênio!

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    Bem antes da separação, desconfiada de que o marido passaria a mão no Baile Gitano algum dia, e aproveitando as viagens dele, mandou copiar o quadro, cópia perfeita. Colocou a cópia na mesma moldura, guardou o original bem embalado em outra casa. Ricos têm casas, vocês sabem.

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    No início do processo de separação, ela, com viagem marcada para Londres, levou o quadro original e o colocou em consignação para leilão na So-theby’s, lance mínimo de 500 000 dólares.

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    Quando voltou, o ainda marido a procurou:

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    – Gênio. Você é gênio!

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    – Não estou entendendo. Qual é agora?

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    Ele confessou que durante a viagem dela pretendera vender em Buenos Aires a tela de Zuloaga que estava na parede e a perícia revelara que o quadro era falso. Adivinhou que ela havia mandado copiá-lo.

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    – Você é gênio!

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    Estava até orgulhoso de que tivesse se casado com mulherzinha tão esperta. Contava para os amigos a última dela. Por intermédio de amigas, fez sondagens para reatarem, não ia achar mulher “tão estimulante”. Ela só aceitou uma semana de… bem… recordações.

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    Poucos dias depois, ela recebeu carta da Sotheby’s dizendo que o quadro não passara na perícia, era falso. Morta de ódio, supôs que o quase ex-marido se antecipara e falsificara o quadro antes dela. Não, ele jurou, e foi então que entenderam: haviam sido ambos enganados pelo marchand argentino.

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