Um mês antes da morte de quatro pessoas da mesma família em Santo André, na Grande São Paulo, intoxicados por monóxido de carbono, parte da chaminé do exaustor a gás do apartamento caiu. A informação é do síndico Edson Ferrari.
O problema teria deixado o equipamento sem o escapamento adequado para o gás que, com as janelas fechadas, matou Enzo, Bárbara, Kátia e Roberto Utima na noite de sexta (12). Quando a peça caiu, segundo Ferrari, Roberto procurou o zelador do prédio e, com uma escada, eles encontraram o pedaço de chaminé na laje do prédio. O relato coincide com a data em que a família teve crises de vômito e tontura, há cerca de um mês. Eles foram diagnosticados com sinusite e desidratação, mas a polícia vê relação do episódio com as intoxicações.
“Um mês atrás, parte da chaminé dele (Roberto) caiu, veio abaixo”, contou o síndico. Ferrari acredita que o proprietário tenha deixado para consertar o equipamento após a viagem à Disneylândia que faria com a família. “Quando voltou, acho que nem lembrou disso, não abriu a janela. E aconteceu.”
Ferrari também contou que o prédio instalou o sistema de aquecimento a gás natural há cerca de dez anos. Na ocasião, Roberto teria informado que já tinha um sistema de aquecimento movido a gás liquefeito de petróleo (GLP), instalado por conta própria. O proprietário foi advertido na ocasião que deveria instalar uma chaminé – o que, segundo o síndico, foi feito na época pela Comgás.
O condomínio deve contratar uma empresa para vistoriar os equipamentos de todos os apartamentos no prédio. Ainda não há data para que isso ocorra. A medida foi tomada após orientação da Polícia Civil.
A família foi velada e enterrada nesta segunda (15), em Mauá, cidade do ABC paulista. Segundo a polícia, informações preliminares do laudo médico confirmam o monóxido de carbono como causa das mortes.
Alerta
O presidente da Associação Brasileira de Aquecimento a Gás (Abagás), Leonardo Abreu, ressalta que a instalação de qualquer aparelho deve cumprir uma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a NBR-13.103. “Em um ambiente interno, como uma residência, todos os aparelhos necessitam de duto de exaustão (chaminé)”, explica Abreu.
O caso
Os corpos foram encontrados pela irmã de uma das vítimas, que morava no mesmo prédio e estranhou a falta de notícias dos parentes desde que ele chegaram de uma viagem à Disney, na noite de sexta-feira. Segundo informações da Polícia Militar, a corporação foi acionada às 12h20 para uma ocorrência de morte suspeita na Rua Haddock Lobo, na Vila Bastos. As vítimas não tinham sinal de violência.
A arquiteta Kátia Utima, de 47 anos, foi encontrada morta debaixo do chuveiro ainda ligado. O exaustor também queimava gás segundo o depoimento do cunhado do casal, Cláudio, à polícia. A menina Bárbara, de 14 anos, estava no andar de cima da beliche, ainda com o cobertor intacto. O empresário Roberto, de 46 anos, estava abraçado ao filho Enzo, de 3, na cama de baixo da beliche. As malas não haviam sido desfeitas.
A polícia desconfia que a mãe teria sido a última a tomar banho, após a família chegar de viagem, pois a filha mais velha já tinha ido dormir – e o pai ninava o mais novo. Com as janelas fechadas e o gás produzido durante todo esse tempo, teriam morrido todos ao mesmo tempo.