Retrospectiva na Pinacoteca redescobre Eliseu Visconti
"A Modernidade Antecipada" reúne 250 obras e busca redefinir o papel do artista na genealogia da arte brasileira
Ignorado durante anos por ter a produção considerada meramente acadêmica, Eliseu Visconti (1866-1944) tem sido redescoberto aos poucos. Uma enorme retrospectiva na Pinacoteca colabora com esse esforço. “A Modernidade Antecipada” reúne 250 obras, como pinturas, desenhos e cerâmicas, grande parte delas pinçada de coleções particulares pelo cocurador Rafael Cardoso. A mostra busca redefinir o papel do artista na genealogia da arte brasileira, agora como um precursor, embora meio torto, do nosso modernismo. Nascido na Itália, Visconti veio para o Brasil com a família ainda na infância. Chegou a ser aluno de Victor Meirelles e Henrique Bernardelli, dois nomes conceituados da época. Nas décadas seguintes, viveu períodos na Europa. Em Paris, teve aulas com Eugène Grasset, o introdutor da art nouveau; em Madri, passava várias horas tentando copiar o estilo do mestre Diego Velázquez no Museu do Prado.
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Visconti cumpre o papel de ligação entre os séculos XIX e XX. Embora inclinado ao neoclássico, mantinha-se de olho no que se fazia em seu tempo, e graças a isso flerta algumas vezes com as formas difusas do impressionismo. Um dos núcleos temáticos da montagem aborda também a relação próxima do italiano com a arte decorativa e o design, até então pouco levados a sério pelos especialistas. Das peças escolhidas para a nova exposição, destaque para a obra-prima “Maternidade”. Pintado em 1906 e pertencente ao acervo do museu da Luz, o óleo exibe uma típica mãe burguesa amamentando um bebê num parque parisiense e acaba de passar por um minucioso restauro. O resultado se mostra acachapante.