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Plantas aquáticas cobrem a Guarapiranga e prejudicam velejadores

Local fica cheio de plantas que se alimentam de poluição

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h43 - Publicado em 2 jul 2010, 21h47
Claudia Mazzaferro - 2172
Claudia Mazzaferro - 2172 (Matias Capizzano/)
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Por mais que os ventos soprem a favor na Represa de Guarapiranga, os barcos a vela dos iatistas que treinam ali não conseguem sair do lugar. A explicação para o aparente paradoxo está na biologia. Desde o fim do ano passado, um tapete verde de cerca de 6 quilômetros quadrados vem cobrindo as águas da represa e atrapalhando os atletas. O “gramado flutuante” é composto de plantas aquáticas, cientificamente chamadas de macrófitas, como aguapé, salvínia e alface-d’água. “Treino aqui há 48 anos e jamais havia visto uma situação como essa”, diz o velejador Claudio Biekarck, sete vezes medalhista pan-americano na classe Lightning, que já participou de três Olimpíadas. As plantas se agarram às quilhas, localizadas na parte de baixo dos barcos, imobilizando-os. “Quando eles ficam presos, só uma lancha é capaz de rebocá-los”, afirma Marcos Biekarck, filho de Claudio e coordenador náutico do Yatch Club Santo Amaro, um dos vários iate clubes dali que têm reclamado do problema. 

Para poder treinar, é preciso colocar as embarcações na água sem a quilha nem o leme e, com a ajuda de uma lancha, arrastá-las em fila indiana para um lugar menos infestado. Como a vegetação flutua ao sabor do vento, o bloco verde fica cada dia estacionado em um lugar. Por causa do problema, a iatista Claudia Mazzaferro, de 14 anos, teve de viajar para Porto Alegre para se preparar para as Olimpíadas da Juventude, que começam no dia 14 de agosto, em Singapura. “O ideal era ficar aqui mesmo, porque São Paulo tem condições de vento muito parecidas com as que vou enfrentar lá”, diz a atleta, que compete na classe Byte. “Mas era como jogar futebol com o campo ruim”, compara. Seu colega de equipe, Alexander Elstrodt, 15 anos, que também participará dos Jogos Olímpicos, já perdeu alguns dias de treino.

Mais comuns em várzeas ou presas às margens, essas plantas aquáticas são, muitas vezes, um indicador da presença de esgoto na água. Isso porque elas se alimentam de nutrientes como fósforo e nitrogênio, encontrados principalmente nos dejetos domésticos. Fonte de poluentes ali é o que não falta. Estima-se que cerca de 800 000 moradores residam na área da bacia, a maior parte de forma ilegal. E, é claro, contribuem com o despejo de detritos. Quanto mais esgoto, maior a probabilidade de proliferação de macrófitas e de algas que se alimentam dos mesmos nutrientes. Segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a concentração média de fósforo na represa no ano passado foi de 0,055 miligrama por litro, mais que o dobro do limite estabelecido por lei, de 0,02. Os índices de nitrogênio, no entanto, estão dentro dos parâmetros. “As macrófitas não comprometem a qualidade da água para o abastecimento, mas podem entupir os coletores e bombas da Sabesp e dificultar a captação”, explica Nelson Menegon Junior, gerente da divisão da qualidade das águas e de solo. “As algas são mais preocupantes, pois podem ser tóxicas e deixam a água com cheiro e gosto de barro.” Atualmente, a Guarapiranga abastece 4 milhões de pessoas em todo o estado.

A Sabesp descarta prejuízos à qualidade da água e nega a relação do crescimento da vegetação com o aumento de poluentes na represa. “Na verdade, o esgoto na Guarapiranga até diminuiu”, afirma Hélio Castro, superintendente de produção de água da Sabesp. De acordo com ele, as plantas aquáticas sempre existiram ali, mas antes ficavam concentradas nas várzeas e nas margens. Com a temporada de chuvas de verão e o aumento do nível da represa, elas teriam se desprendido e se espalhado. Em janeiro, o volume de água que se abateu sobre São Paulo foi de 480,5 milímetros. Isso representa o dobro da média histórica e o maior volume registrado desde 1947 nesse mesmo mês. Por causa disso, os reservatórios continuam cheios. “Os aguapés podem ter se movimentado, mas não teriam se desenvolvido, mesmo nas margens, se não houvesse esgoto para fornecer a eles os nutrientes necessários”, diz o especialista em ecologia aquática André Cordeiro dos Santos, professor da Universidade Federal de São Carlos. Segundo a Sabesp, uma retroescavadeira tem retirado a vegetação da água constantemente. “Vamos aumentar o número de veículos para coletar ainda mais e minimizar um pouco o problema”, promete Castro. “Daqui a quinze dias teremos uma reunião com os clubes para fazer um plano de ação e estabelecer um mutirão.” Depois de retiradas e secas, as plantas serão levadas para um aterro sanitário e poderão ser usadas como adubo.

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