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Grupo de mães cria projeto para auxilar órfãos da pandemia

Iniciativa crianças que precisam recomeçar depois da perda de um dos pais (ou ambos) por Covid-19; saiba como ajudar

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h44 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
Luis Eduardo e as filhas Marina e Rachel sorrindo para a foto. As meninas estão de máscara e luis está sem. uma das meninas abraça luis por trás, cruzando os braços
Luis Eduardo e as filhas gêmeas, Marina e Rachel: sem a mãe Nádia Lúcia Franco, vítima da Covid-19 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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O pai de Ryan Henrique, 20, e Ryan Victor Lucatto, 10, foi internado em março deste ano. Quando Ecio Nogueira Lucatto morreu, aos 42 anos, a mãe dos garotos, Fernanda Lucatto, foi hospitalizada no dia seguinte. Enquanto isso, o avô paterno, Luiz Brás, 67, que também já estava no hospital, faleceu em dez dias. Ryan Henrique conseguiu permissão para visitar a mãe e se despedir — Fernanda morreu um dia depois, aos 43 anos. “Achei que eu não resistiria (ao sofrimento), mas confiei em Deus em todos os segundos”, diz o filho mais velho do casal. Os irmãos perderam parte da família próxima em duas semanas e ficaram sob os cuidados dos tios Elen Dutra, 37, e Édson Dutra, 42.

Ryan Henrique trabalhava como estagiário em pedagogia em uma escola em Jundiaí, no interior paulista, quando Renata Zezza, 43, mãe de uma das alunas, soube de sua tragédia e ligou para ele oferecendo doações. Outras mães se uniram à Renata em um grupo no WhatsApp, formando o projeto Mães que Acolhem (@maes_que_acolhem). “Cada uma queria me ajudar de uma forma. Elas se organizaram e me auxiliam de todas as maneiras possíveis”, diz Ryan. A história chamou a atenção da cidade e, já no segundo dia de projeto, de acordo com Renata, foram encontrados outros casos de crianças que perderam ao menos um dos pais e 400 voluntários ofereceram apoio e se dividiram em dois chats dentro da plataforma.

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Ryan Henrique e Ryan Victor com os pais, Ecio e Fernanda, sorrindo para selfie em restaurante. ryan henrique, que estão tirando a foto, está de pé assim como fernanda e ryan victor. ecio está sentado, com um prato cheio de comida à sua frente
Saudade: os irmãos Ryan Henrique e Ryan Victor com os pais, Ecio e Fernanda (Reprodução/Arquivo pessoal/Veja SP)

O objetivo do projeto é amparar crianças e jovens de até 21 anos que perderam o pai, a mãe ou ambos para a Covid-19. “Fazemos uma triagem e oferecemos o que cada caso precisa. Temos à disposição psicólogos, médicos, advogados, professores…”, explica Renata, que também é psicóloga e fornece terapia sem custo não só às crianças, mas também aos pais que estão passando pelo luto de ter perdido um companheiro. Segundo Renata, a prefeitura de Jundiaí dá apoio ao programa, e os hospitais públicos encaminham os contatos daqueles que se encaixam na proposta do Mães que Acolhem. No momento, além de Jundiaí, o projeto atua em mais seis cidades do interior do estado e auxilia 65 crianças.

“Em menos de quinze dias perdi meu pai, minha mãe e meu avô para a Covid-19.” – Ryan Henrique

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A iniciativa foi passada de boca em boca até cair nos ouvidos de Luis Eduardo Franco, 43, pai das gêmeas Marina e Rachel, de 10 anos. Ele e a esposa, Nádia Lúcia Franco, 44, se contaminaram no mês de fevereiro. Depois da hospitalização, no momento em que Luis se preparava para receber alta e voltar para casa, Nádia faleceu. “Eu passava o dia todo fora, trabalhando como professor, enquanto ela cuidava das meninas em casa. Fiquei perdido depois que ela se foi.” Para tentar voltar ao eixo, além de sessões de terapia, consultas médicas e assessoria financeira para os três, a equipe custeou uma mãe que ajuda Luis nas tarefas da casa temporariamente.

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O projeto também conseguiu aval da prefeitura para reformar e ampliar a casa de dois cômodos de Kaiki Raimezonni de Oliveira, 29, pai dos meninos Arthur, 9, Nicolas, 4, e da pequena Clarice Antonella, de 3 meses. A caçula nasceu uma semana depois de a mãe, Lucivânia Lucia dos Santos Oliveira, 27, começar a apresentar os sintomas da Covid-19. Ela não resistiu à doença e morreu no Dia das Mães deste ano, ficando apenas quatro dias com a filha, que não contraiu o vírus. Sem ter com quem deixar as crianças para trabalhar, Kaiki recebe doações de roupas, cestas básicas e vaquinhas organizadas pelo projeto.

Kaiki Oliveira junto de seus filhos Arthur, Nicolas e Clarice Antonella posando para a foto. Kaiki e Nicolas estão sentados em uma rede e kaiki está olhando para Clarice, que está em seu colo. Arthur está atrás de todos, olhando para a câmera assim como Nicolas
Reinício do zero: casa nova para a família Oliveira, que perdeu a mãe Lucivânia para a Covid-19 no Dia das Mães (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Interessados em se voluntariar para o projeto Mães que Acolhem devem preencher o formulário aberto em forms.gle/yvTZUi8mR1UGkHQt8. Também é possível doar valores por meio do PIX (11) 99701-5319.

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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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