Professor acumula prêmios nacionais e internacionais com aulas na rua
Paulo Magalhães já conquistou dezenove prêmios e diz que as aulas públicas aumentam o interesse dos alunos e ajudam a “conectar a escola com a comunidade”
Foi em 2016, quando auxiliava um projeto social no Glicério, no centro de São Paulo, que o professor de geografia Paulo Magalhães, 57, decidiu fazer uma “aula pública” pela primeira vez. Levou seus alunos do ensino fundamental para uma rua próxima à Escola Municipal Duque de Caxias e lá deu a aula, algo que virou rotina em sua docência e, hoje, lhe rende prêmios no Brasil e no exterior.
“A gente teve algumas aulas sobre a questão da imigração, por exemplo, porque na escola temos 45 nacionalidades, no bairro são noventa. Os alunos pediram para se aproximar mais dos colegas”, Magalhães explica à Vejinha.
Os temas ensinados nas aulas na rua variam: podem ir desde uma explicação sobre os pombos urbanos até o entendimento de como se deu a formação do bairro. As aulas podem ser nas vias ao lado da escola ou em praças e museus na região da Sé e da Liberdade.
Seu projeto já lhe rendeu dezenove prêmios, um dos mais relevantes em outubro de 2021, o Global Teacher Award, da Aks Education Awards, no qual a proposta de Magalhães foi selecionada entre mais de 200 000 iniciativas. Neste ano, o projeto foi escolhido um dos vencedores nacionais do Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos, e o professor também levou o Prêmio Educador Nota 10.
Para incentivar outras escolas e professores a adotar o método, ele criou um guia da aula pública, que orienta sobre a preparação da aula — que envolve a escolha do tema, a autorização da diretoria da escola e dos pais e a definição do roteiro — e dá dicas de segurança e abordagem dos alunos.
Magalhães diz que as aulas públicas aumentaram o interesse das crianças em aprender, ao mesmo tempo que ajudam a “conectar a escola com a comunidade”.
“A gente está em um momento muito difícil do Brasil, e essas aulas públicas aprimoram o aprendizado dos alunos. Tivemos uma melhoria muito grande nos índices de aproveitamento escolar do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), e há um maior respeito com a escola. Eles se tornam mais conscientes, livres e muito mais participativos”, afirma.
O professor acredita que buscar novas maneiras de ensinar às crianças da região é também uma forma de elas aprenderem a valorizar o bairro onde moram. “Quando fazemos as aulas públicas, ajudamos os alunos a entender toda a dinâmica do bairro, eles se sentem muito mais pertencentes à história do local. É um bairro degradado, com inúmeros problemas, uma população bastante vulnerável, e para eles é importante. As crianças se sentem valorizadas”, explica.
+Assine a Vejinha a partir de 9,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 6 de julho de 2022, edição nº 2796