Problemas financeiros ameaçam Santa Casa e Hospital São Paulo
Dívidas põem em risco o serviço de dois importantes hospitais da capital
Encontrar serviços de saúde de qualidade na rede pública é algo cada vez mais raro. Diante desse cenário, é com enorme inquietação que os paulistanos receberam na semana passada notícias preocupantes a respeito do estado financeiro de duas instituições que, durante anos, foram conhecidas pela excelência no atendimento. Agora, atoladas em dívidas, estão com o dia a dia comprometido e correm o risco de fechar caso não recebam uma transfusão urgente de recursos. A situação mais alarmante é da Santa Casa de Misericórdia, na Vila Buarque. Fundado em 1884, o local é administrado pela iniciativa privada, mas não tem fins lucrativos. Nos últimos anos, o endereço começou a sofrer com a falta de recursos financeiros. Na tentativa de solucionar a crise, a Secretaria Estadual de Saúde liberou uma verba emergencial de 3 milhões de reais em julho, quando o pronto-socorro do lugar ficou fechado trinta horas por falta de dinheiro.
Em contrapartida a essa ajuda, o governo pediu que fosse realizada uma auditoria para conhecer o tamanho exato do rombo no orçamento. Na época, estimava-se um passivo de 350 milhões de reais. Divulgado na última segunda (29), o estudo mostrou uma situação ainda pior do que se imaginava: a Santa Casa deve na praça 433,5 milhões de reais. “Sabíamos que havia problemas, mas não desse porte”, afirma o secretário de Saúde, David Uip, que planeja formar uma comissão para acompanhar de perto o caso. “A instituição precisará tomar medidas radicais e vamos ajudá-la a renegociar essa dívida.” Nos últimos dias, circularam informações de que o governo injetaria cerca de 130 milhões de reais no hospital. “É leviano falar em números neste momento, pois ainda estamos em fase de discussões”, desconversa Uip.
À frente da administração do hospital desde 2008 e reeleito em abril para um período de mais três anos no cargo, o advogado Kalil Rocha Abdalla é apontado por muitos como o responsável por fazer o bolo do passivo crescer de forma descontrolada. “Sua gestão é uma caixa-preta: não existe ali hoje nenhuma atividade que não seja deficitária”, critica Eduardo Carneiro, ex-presidente da AACD e irmão remido da Santa Casa, posição equivalente à de conselheiro. Procurado pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, Abdalla não quis dar entrevista. No último dia 15, dois membros de sua equipe pediram demissão: o superintendente Antonio Carlos Forte e o tesoureiro Hercílio Ramos. Isso ocorreu depois da divulgação de uma denúncia na Folha de S.Paulo. Segundo a notícia, os dois receberam um total de 100 000 reais por serviços prestados de consultoria a um dos fornecedores de materiais da Santa Casa.
+ Por que somos tão maltratados pelos planos de saúde
Outro estabelecimento em estado crítico é o Hospital São Paulo, na Vila Clementino, que pertence à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesse caso, as dívidas são menores, mas não menos preocupantes: em torno de 50 milhões de reais. Para não fechar o pronto-socorro, que atende mais de 700 pacientes por dia, a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, passou o chapéu no Ministério da Saúde e na Secretaria Estadual de Saúde. Levantou quase 15 milhões de reais. “Além de resolver o restante da dívida, precisamos solucionar o déficit atual da operação, de 2 milhões de reais por mês”, afirma Soraya. Ela está fazendo reuniões para tentar renegociar os valores recebidos do SUS, que estariam defasados. “Não queremos ficar vivendo de recursos emergenciais”, completa.
+ DIAGNÓSTICO GRAVE
Os principais problemas vividos pelas instituições nos últimos meses
SANTA CASA
tamanho da dívida: 433,5 milhões de reais
medidas emergenciais: intervenção da Secretaria Estadual de Saúde, que realizou auditoria e detectou o rombo no orçamento; entrada de novos superintendente e tesoureiro
HOSPITAL SÃO PAULO
tamanho da dívida: 50 milhões de reais
medidas emergenciais: dirigentes foram ao Ministério da Saúde e à Secretaria Estadual de Saúde pedir dinheiro para evitar o fechamento do pronto-socorro, que atende mais de 412 000 pacientes por ano, contando o pronto-atendimento