“Privatização vai agilizar a contratação de obras”, diz diretora da Sabesp
Paula Violante afirma que empresa terá mais facilidade para usar tecnologias novas, prevê Tietê mais limpo em 2026 e fala de ações no litoral para o verão
Com uma agenda própria, dissociada do processo político da recém-aprovada privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a diretora de Engenharia e Inovação da empresa, Paula Violante, tem metas ambiciosas em seu radar nos próximos anos.
Comandando um time de 777 pessoas, espalhadas em 376 municípios paulistas, a engenheira química de formação chegou na parte final do bem-sucedido programa de saneamento no Rio Pinheiros e planeja replicar o formato no Tietê, com desafios tão maiores quanto os 1 100 quilômetros de extensão (ante 25 do Pinheiros) do maior rio paulista.
Para que isso seja viável, o primeiro passo será ampliar as estações de tratamento da Região Metropolitana, aplicando um conceito utilizado de forma experimental em Franca, no interior. Na cidade, toda a frota de carros da Sabesp é abastecida com a energia advinda do tratamento do esgoto, em processo que transforma o lodo em biogás.
A partir de 2027, a companhia pretende produzir 190 megawatts médio de energia. “Será suficiente para abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes”, diz Paula Violante, que conversou com a Vejinha na última segunda-feira (11), na sede da empresa, em Pinheiros, na Zona Oeste.
De que forma a privatização da Sabesp vai impactar nos serviços prestados pela companhia?
Essa é uma agenda do governo, que vem fazendo os estudos e avaliações. Dentro do aspecto da engenharia e das obras estruturantes, o que posso dizer é que conseguiremos ter maior celeridade de contratação (de obras), por exemplo. Hoje temos um prazo médio que varia entre 180 e 200 dias. (Com a privatização) a gente consegue fazer num prazo mais viável. Além disso, poderemos olhar para tecnologias diferenciadas e dizer qual delas é melhor para a empresa.
Depois do projeto de despoluição do Rio Pinheiros, como a Sabesp vai atuar na continuação do programa do Tietê, que tem desafios maiores?
A Sabesp nunca deixou de fazer as obras de despoluição do Tietê. Ela vem fazendo isso gradativamente. É um projeto grande, que demandou investimentos de 3,5 bilhões de dólares em trinta anos e estamos buscando a finalização. Agora faremos em etapas. A primeira é entre Salesópolis (na nascente do rio) e o Cebolão (na capital), mas sem deixar de lado as outras cidades atendidas.
Como se dará a primeira etapa?
Hoje, nossas cinco estações de tratamento da Região Metropolitana atingiram sua capacidade e precisam ser ampliadas. Vamos fazer uma ampliação e trazer novas tecnologias, com rotas de economia circular, olhando para os subprodutos das estações. A Sabesp tem um projeto muito importante no Polo Petroquímico de Mauá (no Grande ABC). Numa estação de tratamento de esgoto, há diversos subprodutos, como o efluente, que é o esgoto tratado. Em Mauá, essa água é utilizada como reúso. Temos outro em Franca (no interior). Todo esgoto tratado lá gera biogás e é usado no abastecimento da frota de automóveis da empresa.
Aumentando a escala e com outras inovações, a Sabesp pode se tornar uma grande produtora de energia?
Temos hoje dentro dos sistemas 43 plantas de usinas fotovoltaicas, com energia limpa, em construção. A gente utiliza as nossas áreas e coloca em distribuição essa energia gerada. A companhia já finalizou o projeto e autorizações para ser autoprodutora de energia. Até o final do ano vamos liberar o primeiro edital para sermos autoprodutores de energia. Tudo o que a gente consumir a partir de 2027 será por energia limpa, verde.
Por outro lado, enquanto a Sabesp objetiva novos percentuais de eficiência e inovação, a companhia perde quase 30% de toda a água que produz. Como reduzir as perdas hídricas?
Os índices estão atualmente em 28%. A média da Sabesp é importante e expressiva, principalmente ao se comparar com a média nacional, de 45%. É a mínima histórica da Sabesp. Temos muita tecnologia sendo utilizada, como georradar, que passa pelas ruas e vai analisando se tem ruídos ou manchas diferentes de vazamentos não visíveis. Usamos inteligência artificial, hidrômetros inteligentes, medição inteligente.
Às portas de mais um verão, o que a empresa fez e pretende fazer para reduzir um dos principais problemas do litoral paulista nesta época do ano, a falta de água?
Temos trabalhado para uma maior resiliência hídrica de todo o litoral, seja Baixada, seja Litoral Norte. Os turistas triplicam, quadruplicam o número de habitantes e temos que estar resilientes para abastecer nossos sistemas. Na Baixada, fizemos a ampliação de uma estação de tratamento de água em Itanhaém. Na região, todo o sistema está cada vez mais integrado. Conseguimos transferir água de Itanhaém para a Praia Grande, por exemplo, ou de Praia Grande para São Vicente. É como já ocorre na Região Metropolitana desde a crise hídrica.
Quando o sistema da Baixada Santista estará 100% integrado?
Tem obras que estão na primeira fase, que vai envolver obras submarinas, como a que levará água para o Guarujá. Isso será até 2027. E também buscaremos novas tecnologias para dessalinizar a água. Fomos estudar o que fazem nos Emirados Árabes, na Califórnia, no Chile. Todos buscam uma dessalinização mais moderna e diferente do que foi feito no passado. Temos um projeto no Litoral Norte e estamos trabalhando no licenciamento da obra.
Quais as metas da limpeza do Tietê?
Estão dentro das metas de universalização (até 2033). O programa Integra Tietê considera essas metas de universalização: despoluir os afluentes do Tietê para que esteja livre de esgoto.
Quando o Tietê vai ficar com a cara e o cheiro atual do Pinheiros?
A gente trabalha para que isso ocorra até 2026, para que consiga melhorar a situação.
Das despoluições de rios mundo afora que a senhora acompanhou, quais podem servir de exemplo para o Tietê?
Nossas complexidades são muito maiores e temos áreas muito mais vulneráveis. O que mais vai servir de exemplo para o Tietê é o que aprendemos no Pinheiros. A primeira grande coisa é entender as necessidades das comunidades onde atuamos e depois fazer um trabalho socioambiental, antes que a obra inicie. Precisamos entender a demanda, onde temos liberdade para passar com as redes, onde estão os principais pontos e gargalos.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872