No início de junho, o prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, postou um vídeo em seu perfil no Facebook. Intitulado Blitz da Amarração, ele mostrava operações montadas para identificar os responsáveis por espalhar cartazes de serviços de cartomancia em postes no bairro da Zona Oeste, o que fere a Lei Cidade Limpa.
Didático e com intervenções visuais, o material teve cerca de 135 000 visualizações, sete vezes mais que o número de seguidores da página. Um feito e tanto para o registro de um trabalho rotineiro realizado pela repartição pública. “Agora, vou me dedicar a outras ações do mesmo tipo”, diz Mathias, de 26 anos, que editou as imagens de forma quase caseira, com a ajuda de um amigo.
Ao transformar a gestão em uma espécie de reality show, Mathias traduz uma tendência cada vez mais em alta na política municipal: a busca pelos likes. O óbvio mentor nessa área é o próprio chefe. Com 2,7 milhões de seguidores no Facebook, João Doria mantém uma equipe de quatro pessoas, capitaneada pelo publicitário Daniel Braga, para monitorar as redes e realizar até cinco postagens por dia.
No último dia 18, um vídeo do prefeito ao lado do empresário Silvio Santos, do SBT, rendeu 1,8 milhão de visualizações e mais de 22 000 compartilhamentos. E nem sempre ele se limita a assuntos domésticos. Em maio, uma mensagem de felicitações ao presidente francês Emmanuel Macron por sua vitória, no idioma do homenageado, teve 1,3 milhão de acessos.
O prefeito regional de Pinheiros está longe de ser o único pupilo de Doria a coordenar suas ações de olho no Facebook. Em 21 de maio, o domingo em que a Polícia Militar iniciou sua atual operação na Cracolândia, o administrador da Sé, Eduardo Odloak, circulou pela região com o celular em punho. Em um vídeo postado na rede social mostrou um enorme amontoado de lixo prestes a ser recolhido por seus funcionários.
Nas semanas seguintes, visitaria o local mais uma dezena de vezes. Em todas elas, a câmera do telefone acompanhou suas caminhadas. As postagens receberam 80 000 visualizações. “Quando fui subprefeito da Mooca, há dez anos, a única interlocução possível com a população era a presencial”, diz. “Hoje está muito mais fácil.”
Em Cidade Tiradentes, na Zona Leste, o prefeito regional, Oziel Evangelista, usa as redes sociais para combater os pancadões. Em seu perfil, com cerca de 6 000 seguidores, os posts mais populares são os registros das operações de fiscalização realizadas em conjunto com a PM, a Guarda Civil e a CET, como um de 28 de janeiro, que teve 2 000 curtidas e comentários. “Os frequentadores ficam sabendo de nossas incursões pelo próprio Facebook e nem se juntam mais para promover as festas”, comemora.
Talvez seja coincidência, mas o fato é que Mathias, Odloak e Evangelista foram os três agraciados até o momento com o prêmio Prefeito Regional do Mês, instituído neste ano pela administração municipal. Doria é quem dá a palavra final, claro.
Se antes era necessária a inauguração de uma obra para ser visto pelo eleitor, hoje basta apenas um celular. Especialistas, no entanto, alertam para os excessos da prática. “O problema é cair no populismo e atrapalhar a relação das instituições com a sociedade”, afirma o cientista político Aldo Fornazieri.
Por enquanto, ninguém parece muito preocupado em exagerar na dose. A estratégia funcionou tão bem nas antigas subprefeituras que começou a se espalhar por outros recantos da administração. Em 11 de junho, o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará, anunciou no Facebook que estava se dirigindo à Rodoviária do Tietê para encaminhar um morador de rua de volta a sua cidade de origem, São Luís, no Maranhão.
Entre elogios e críticas pela iniciativa, a postagem teve mais de 30 000 visualizações e ajudou o político a chegar à marca de 10 000 fãs na página.