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Pereirão da vida real: Rivania concilia rotina em obras e criação do filho

"Já aconteceu de eu ir a reuniões e perguntarem pelo proprietário", conta a construtora civil, que administra a própria empresa sozinha há dez anos

Por Alice Padilha
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h32 - Publicado em 18 set 2020, 06h00
Rivania e parte da equipe da Gesso Campos: respeito conquistado (Rogério Pallatta/Veja SP)
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Transmitida pela primeira vez em 2011, a novela Fina Estampa retornou para o horário nobre da Globo durante a pandemia, após as gravações de Amor de Mãe serem interrompidas em março. A trama trouxe com ela uma das personagens mais queridas do público brasileiro: Griselda, a faz-tudo Pereirão. Interpretada por Lilia Cabral, a divertida mulher trabalha com reparos elétricos e mecânicos. Ela até ganha o título de “marido de aluguel”.

Na vida real, a construtora civil Rivania Campos, 35, experimentou algo parecido. Formada em enfermagem, ela começou a trabalhar em obras aos 19 anos como sócia na empresa de seu então marido. Veio com vontade de mudar tudo. “Como mulher, eu sou muito perfeccionista e detalhista, então eu queria fazer tudo certinho. Uniformizar funcionários, adesivar carros e criar uma identidade para a empresa. Mas não receberam a ideia muito bem”, conta. Em 2010, ela decidiu terminar o relacionamento, desfazer a sociedade e fundar a própria marca, a Gesso Campos, que comanda sozinha até hoje.

“Eu uso a cor roxa em tudo: uniformes, andaimes, caminhões, frota de carros. É a minha identidade, uma forma de deixar claro que uma mulher gerencia a empresa”, avalia. No começo, os funcionários ficaram irritados com a cor, tida como feminina. Mas depois de um tempo se acostumaram. “Hoje, quando alguém vê os uniformes, logo diz que é da empresa da ‘loira do gesso’, como fiquei conhecida. Ninguém usa mais meu nome.”

Além de cuidar da área administrativa, Rivania fazia um pouco de tudo no início: dirigia caminhões, descarregava cargas pesadas e até montava os andaimes. “Eu adoro estar em obras, é meu local favorito. Mesmo que hoje eu tenha uma equipe para o operacional, ajudo sempre que necessário. Dirijo carro, moto, caminhão, jet ski, o que for preciso para a empresa chegar mais longe”, comenta Rivania.

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Gesso Campos – Made in SP
(Gesso Campos/Divulgação)

Seu carro-chefe é o steel frame, sistema construtivo composto de perfis metálicos de aço galvanizado revestidos de placas de drywall, feitas de gesso. A estrutura é bem mais leve e barata do que as que utilizam tijolos, cimento e concreto. Em seu catálogo há diversas outras técnicas de decoração em gesso, aplicadas em residências e comércios na Grande São Paulo e em outros estados brasileiros sob demanda. Os projetos levam de um a três dias para ser concluídos e o valor varia de acordo com o tamanho e a complexidade, podendo ir de 5 000 a 100 000 reais.

Na área operacional, ela administra uma equipe de dezoito pessoas 100% masculina. “Já aconteceu de eu ir a reuniões e perguntarem pelo proprietário. Não é fácil, mas consigo impor respeito porque amo o que faço”, diz.

Nascida em Itainópolis, no interior do Piauí, Rivania veio para São Paulo a passeio aos 16 anos e se apaixonou pela cidade. Ela é a caçula de dois irmãos mais velhos e sempre foi a “bonequinha” da família. Durante a faculdade, já dividia a agenda com a construção civil. Chegou a investir em uma pós-graduação na área de saúde, mas decidiu abandonar para administrar o próprio negócio.

Rivania Campos – Made in SP
Com o filho, Enrico, de 4 anos: rotina atribulada (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Hoje em seu segundo casamento, ela concilia a jornada de trabalho intensa com a criação do filho, Enrico, de 4 anos. “Tento fazer o dia ter 48 horas para ter tempo para ele. É preciso ter muita serenidade para administrar tudo. Mas acho que quando crescer ele terá orgulho da mãe.” Vaidosa e apaixonada por esportes, também encontra tempo para dançar e frequentar a academia semanalmente.

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A pandemia não representou um impacto muito grande para a empresa, que se recolheu para a área residencial quando o comércio fechou. As máscaras já faziam parte do cotidiano da equipe, que precisou apenas aprender a trocá-las com mais frequência. “O único contratempo foi que tivemos de dividir o pessoal em equipes menores. Onde antes eu poderia colocar sete funcionários, agora vão apenas três. Isso prejudica o tempo de produção, que ficou um pouco maior”, explica a faz-tudo do gesso.

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705.

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